terça-feira, outubro 09, 2012

Homenagem ao Pastor Eliézer Valério

O dia 08 de outubro de 2012 estará marcado para sempre no coração do povo itaperunense. O dia em que centenas de pessoas se revolviam nos seus leitos não conseguindo dormir após receber a fatídica notícia do falecimento de um ilustre pastor. O dia em que muitos acordaram entre as lágrimas. A segunda-feira foi cinzenta e estranha. O trânsito da cidade estava agitado. Acidentes aconteceram. Existia um clima de alvoroço no ar. Após o dia da democracia, a notícia foi democrática, espalhou-se como fogo comovendo o evangélico, o católico, o simpatizante da fé, o comerciante, o empresário, o amigo, o ouvinte, o admirador, o pecador, o vizinho, as ovelhas, etc. O dia em que os resultados da eleição perderam seu espaço nas rodas de bate-papo dando lugar a conversa sobre a morte de um homem de Deus. Rapidamente centenas de pessoas se ajuntaram para despedir-se de um homem que alguns anos atrás chegou a Itaperuna como um estranho, um anônimo, entretanto, através da sua vida conquistou o coração do povo e partiu de forma surpreendente deixando o seu nome registrado nos anais da história. Dormiu e não acordou mais. Há um pensamento que diz “a importância do ser humano está na sua postura durante a vida, depois disto vira lenda ou vira pó”. Certamente este homem tornou-se uma lenda. Nós tocamos em poucas coisas, mas deixamos sempre nossas impressões digitais. Este homem deixou um pouco de si em todos nós.
Aprendemos muito com suas mensagens, mas aprendemos mais com a sua vida. Hoje existem muitos pastores que dominam a arte da oratória, são eloqüentes, sabem manipular as multidões, assim como os sofistas da filosofia grega, usam as palavras para ludibriar, enganar e persuadir. São doutores do convencimento. Como é fácil ter piedade nas palavras. É mais barato colocar a cabeça para trabalhar do que o coração. Este homem não era um catedrático da teologia, ele era muito simples. Não dominava nenhuma técnica, alguns diziam que ele tinha um problema de dicção de modo que dificultava que as pessoas entendessem com nitidez o que ele pregava. Era um homem simples no agir, falar, vestir e viver. Seu exemplo foi sua mais poderosa retórica. A luz da sua vida santa sempre foi o principal argumento do evangelho que pregava. Não pregou apenas com as palavras, pregou com sua vida.
Durante muitos anos andou a pé de um lado para o outro visitando congregações, enfermos nos hospitais, presidiários, amigos, etc. Até que um dia lhe presentearam com um carro. Ganhou o presente, mas não mudou de conduta. Continuou empenhado na missão celeste que recebera de Deus. Este homem embora fosse pastor, não ficava sediado em um gabinete esperando que o povo o procurasse, ele procurava o povo. Não esperava seu telefone tocar diversas vezes para depois se mobilizar diante das pressões populares. Tinha iniciativa. Era um voluntário movido pelo amor de Cristo. Abnegação era sua marca. Era um pastor diácono. Uma raridade no mundo contemporâneo. Era um pastor confidente, estava sempre pronto para ouvir, guardar e aconselhar. Era desprovido de ambição. Sabia que um homem cheio de si jamais poderá pregar verdadeiramente o Cristo que se esvaziou de si mesmo. Jamais o ouvi ufanando-se da posição que ocupava. Não tinha orgulho do posto e sim da chamada. O povo certamente chorará a sua morte durante 40 dias assim como aconteceu com Moisés.
Este pastor era amigo de todos e ao mesmo tempo de poucos. Possuía segredos no seu coração, agruras do ministério que não poderiam ser compartilhadas porque os ouvintes não teriam maturidade para suportar. Este pastor estocou nos recônditos da sua alma decepções que colecionou durante a faina ministerial. Entretanto, soube gerenciar suas emoções e transformou as dificuldades em combustível para continuar batalhando pela causa de Cristo. Foi emocionante ver a multidão que tomou conta da Rua Primeiro de Maio aplaudindo-o enquanto carregavam seu caixão. Este homem não impôs respeito. Ele conquistou o respeito das pessoas. Como não lembrar às vezes em que após brincadeiras ele colocava a mão na boca, abaixava levemente a cabeça dando um sorriso tímido. O dia 08 de outubro ficou marcado pela vida de um homem que se tornou uma lenda pela simplicidade do seu viver. Sinceramente, como um recém ordenado ao cargo de pastor, eu, Israel Thiago Trota, aprendi muito com este homem, que antes de pastor foi servo. Sei que a morte do cristão não significa a extinção da luz e sim o apagar da lâmpada com a chegada da aurora. Certamente este homem colherá na eternidade os frutos que plantou durante sua vida. Os céus estão em festa enquanto a terra chora sua partida. Se quiseres saber o nome deste homem, grave bem e jamais esqueça, porque daqui a 30 anos ainda ouviremos falar dele como um herói da fé que viveu entre nós. Não fui contemporâneo de Charles Spurgeon, Martinho Lutero, Moody, Jan Huss, Wycliff, mas terei orgulho de dizer que conheci e convivi com o Pastor Eliézer Valério.
Por Israel Thiago Trotta