“Obedeçam aos seus líderes e sigam as suas ordens, pois eles cuidam sempre das necessidades espirituais de vocês porque sabem que vão prestar contas disso a Deus. Se vocês obedecerem, eles farão o trabalho com alegria; mas, se vocês não obedecerem, eles trabalharão com tristeza, e isso não ajudará vocês em nada” (Hb 13.17)
Primeiro: Há pessoas que são rebeldes quanto ao princípio de autoridade e, por isso, sofrem consequências pelos seus atos de rebeldia. Podemos citar os israelitas no deserto, que se rebelaram contra Moisés, e, também, Saul que desobedeceu à orientação dada por Deus por meio do profeta Samuel.Podemos observar três aspectos dessa questão de obediência à autoridade.
Segundo: Há pessoas que consideram os líderes espirituais como representantes de Deus aqui na terra. Acham que eles são intermediários entre Deus e os homens. Tudo que fazem ou dizem deve ser aplaudido calorosamente. Portanto, devem ser obedecidos em tudo sem a mínima contestação. Essas pessoas tornam-se dependentes deles para tudo: escolher que carro comprar, o nome do filho, que negócio fazer, etc.
Ai dos que discordarem. Vão ver-se com Deus. Afinal de contas se levantaram contra o ungido do Senhor. Há um auxiliar que chegou a escrever no boletim da igreja que não se deve nem rir na presença do líder. É falta de respeito. Dá ou não dá vontade de chorar?! Fico imaginando Jesus numa festa de casamento e todo mundo sério. Ai de quem rir. Isso para não falar na festa no céu quando um pecador se converte, um anjo dizendo para o outro todo sério no meio da festa: “viu aquele perdido converteu? Vamos comemorar: argh!”. Só se fosse um anjo caído infiltrado.
O líder transforma-se em mito, o santo evangélico, e tome santos, são muitos. Só falta querer eleger o primeiro papa evangélico (não sei pra que dei essa ideia (rs). É preciso nos lembrar de que todo convertido, todo cristão é sacerdote ungido do Senhor (Ap 1.6; 1º Jo 2.20,27; 2º Co 1.21-22), e que levantar-se contra qualquer crente é levantar-se contra Deus, é pecado (1Pe.5.3). Portanto, todos os crentes são igualmente dignos de respeito.
Terceiro: São aqueles líderes que, por inocência (má interpretação da Palavra) ou por interesses ou deslumbramento – Jimmy Swegart, pregador, disse que achava que era um anjo – aceitam essa condição de dominadores do povo de Deus. Podemos citar o profeta Semaías que, por interesse financeiro, aliado a outros profetas, ficaram ao lado dos poderosos e tentaram impedir Neemias de reconstruir os muros de Jerusalém (Ne.6.10-14).
Entretanto, há que se fazer uma distinção, uma coisa é levantar-se contra uma pessoa, outra é levantar-se contra os atos de uma pessoa, contra atitudes antiéticas. Devemos respeitar igualmente a todos do Corpo de Cristo, da família real, de Deus, mas respeitar não é concordar com toda atitude dela. Se um irmão mente, adultera, humilha alguém, rouba, calunia, etc, não podemos compactuar com isso. Seja ele um líder ou não.
Aliás, sobre líder, veja o que diz Mateus: “Vocês não devem também ser chamados de líderes por que vocês têm um líder, o Messias. Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros. Quem se engrandece será humilhado, mas quem se humilha será engrandecido” (Mt 23.10-12).
Não vejo como contradição entre essa passagem e aquela citada inicialmente de Hebreus. Aqui, Mateus está advertindo quanto ao desejo de mando, de domínio sobre o rebanho do Senhor.
Vamos ver algumas passagens Bíblicas em que aparece a relação com a autoridade:
·Ai de Neemias, se tivesse obedecido ao profeta vendido, Semaías, entrando no templo, o que lhe era proibido. Ele ainda clamou o juízo de Deus sobre todos os profetas que tentavam intimidá-lo para não reconstruir o muro (Ne 6.10-14).
·Ai do Sacerdote, (comentaristas creem que era sumo sacerdote) Eliasibe que deu um cômodo do Templo para seu parente, Tobias, morar; e Neemias, quando soube disso, atirou os móveis dele fora e tomou posse e consagrou o cômodo novamente a Deus (Ne 13.8).
·Ai do povo Judeu, se as parteiras hebreias não tivessem desobedecido e mentido para a autoridade, no caso Faraó, quanto a ordem dele para matar todos os filhos homens que nascessem. Elas foram até recompensadas por Deus (Êx 1.15-22).
·Ai de Amós, um camponês, se não tivesse chamado a atenção do profeta, como Deus lhe ordenara (Amós 7.14-17).
·Ai de José do Egito, se ele não tivesse resistido à sua patroa, esposa de Potifar.
·Ai dos três reis magos, se não tivessem desobedecido a Herodes, deixando de dizer-lhe onde estava Jesus recém-nascido.
·Ai de Davi, se não houvesse desobedecido Saul, tendo fugido dele e formando seu próprio exército. Na verdade, Davi tornou-se um desertor.
·Ai de Davi, se não tivesse comido o pão da proposição, que era consagrado para ser comido só pelos sacerdotes, pois teria morrido de fome.
·Ai do apóstolo Paulo, que depois de ter um encontro com Jesus, não passasse a desobedecer ao sumo sacerdote, e em vez de perseguir os cristãos passasse a apoiá-los (At.9).
·Ai de Balaão, mais burro que uma mula, que teve que ter sua atenção chamada por ela.
·Ai de nós, se Lutero não tivesse se levantado contra as autoridades religiosas da sua época, que exploravam os fiéis e mergulhavam o povo na idolatria.
·Ai de todo convertido, se não tivesse aceitado Jesus, em desobediência as suas antigas autoridades religiosas: padres, bispos, papa, pai de santo, etc. Assim, todo crente está em desobediência à sua antiga autoridade religiosa. Ainda bem.
·Ai de Sadraque, Mesaque e Abednego, se não tivessem desobedecido a Nabucodonosor.
·Ai de nós, se Jesus não tivesse encarado as autoridades religiosas: escribas e fariseus. E também João Batista, que advertiu Herodes e as autoridades religiosas da sua época, quanto à necessidade do arrependimento.
A conclusão em que podemos chegar é que devemos obedecer, honrar e respeitar as autoridades. Contudo, pelos exemplos dados, vemos que não é uma obediência cega. Isso somente a Jesus! Não é ir contra a autoridade, mas contra algumas de suas ações. Não devemos ir contra o princípio de autoridade, mas ir contra autoritarismo sem princípio.
Que o Espírito de Jesus nos oriente para não sermos rebeldes, mas também não sermos coniventes com o erro, ou seja, com o pecado, mesmo que seja cometido em nome de Deus. Amém!
:: Pr. Lúcio Barreto ( pai)