Jó foi um personagem bíblico digno de honra, merecedor de condecoração. O próprio Deus o enalteceu, intitulando-o íntegro. Um excelente testemunho, principalmente vindo da parte de Deus. Senhor das fazendas, homem de oração e sacrifícios, este era Jó. Sua riqueza era ampla: espiritual e material. Todas as vezes que leio o primeiro capítulo de Jó fico admirado diante da espiritualidade deste homem da terra de Uz. Contudo a história augusta de Jó se converte em drama. Subitamente ele perde tudo o que possuía: gado, ovelhas, serviçais, camelos, fazendas, casas, filhos, saúde e paz. Refiro-me a paz, porque neste momento da narrativa bíblica aparecem seus amigos para acusá-lo e desmerecê-lo. Começam a afligi-lo com perguntas e questionamentos de cunho acusativo. O enfermo Jó se torna réu na corte de seus amigos juízes implacáveis e impiedosos.
Elifaz, Bildade e Zofar eram na verdade pseudo-amigos de Jó, não se contentavam em vê-lo contuso, objetivavam deixá-lo confuso. Não respeitaram a sua dor, as suas perdas. Depois de perder tudo em um curto espaço de tempo, agora Jó precisava conviver com as críticas dos seus “supostos amigos”. Eles nada podiam fazer para melhorar a sua situação, mas não mediram esforços para piorar o seu estado. Criticaram o homem da terra de Uz simplesmente por criticar. Entendo que se não estivermos dispostos a ajudar uma pessoa a vencer as suas falhas, há pouco valor em apontá-las.
Neste momento da história sou assaltado por um sentimento de revolta. Perturbação por aqueles que esperam a nossa fraqueza para expor os nossos pecados, e quando não descobrem nada, forjam comentários, inventam inventários, desenham ações que nunca aconteceram, palavras que nunca foram ditas. Conversas frívolas, fofocas peçonhentas. O triste da história é que Elifaz, Bildade e Zofar falavam em nome de Deus. Eram artistas da retórica, conheciam a arte do discurso, mas não entendiam a arte da amizade. Eram gigantes na homilia, anões na empatia. Despedaçaram alguém que já estava destruído pelas perdas. Pisaram em alguém que já estava consideravelmente machucado pelas enfermidades que carregava no seu corpo. Os amigos de Jó na verdade eram traiçoeiros, conheciam a método do abraço do tamanduá, do presente de grego. Não se alegravam com a bem-aventurada vida de Jó, na verdade, seu sucesso era interpretado como um fracasso para eles. Ficavam inconformados com as notícias positivas que ouviam a respeito de Jó - “era o maior de todos os do Oriente” (Jo 1.3) O brilho de Jó cegava-lhes a visão, a alegria de Jó era a tristeza de Elifaz, Bildade e Zofar. Os amigos de Jó se assemelham aos irmãos de José.
José era o filho dócil e querido da casa de Jacó. Humilde e inocente, José via seus irmãos como irmãos, enquanto eles enxergavam-no como concorrente. José era ingênuo demais para pensar que seus irmãos queriam a sua queda, que fomentavam o seu desaparecimento. José teve um sonho e compartilhou-o com os seus irmãos, queria de alguma forma torná-los parte de suas aspirações. O sonho de José foi um pesadelo para seus irmãos. O sonho dos virtuosos é o pesadelo dos invejosos. Uma máfia se formou na casa de Jacó, o plano mirabolante que “uniu os desunidos” era acabar com José. A política da inveja é assim, os invejosos se aliam para acabar com alguém em comum, depois do plano realizado, eles começam a guerrear entre si – é cobra engolindo cobra. É assim que acontece com os fofoqueiros de plantão que transformaram a roda dos esclarecedores cristãos em roda dos escarnecedores pagãos. Depois de falar de alguém, quando saem do ambiente pérfido que criam com o teor das conversas, um começa a maldizer o outro. Antes eram parceiros da calúnia, agora, são opositores no jogo desleal de maldizer e vituperar alguém. Na verdade, os amigos de Jó e os irmãos de José se merecem, entre eles existe amizade e irmandade (até que um desacordo os separe). Os amigos de Jó e os irmãos de José revelam o lado traiçoeiro que existe nas relações humanas. O que difere um grupo sórdido do outro é que os amigos de Jó esperaram uma oportunidade para atacá-lo, já, por sua vez, os irmãos de José criaram uma oportunidade. Jó e José, dois nomes semelhantes. Dois personagens íntegros. Ambos conviveram com a traição, com a calúnia, com a acusação injusta por parte das pessoas que menos esperavam. A semelhança de Daniel, Jó e José encontraram alguns sátrapas. Sátrapas mascarados de irmãos, que aparentavam ser amigos, quando na verdade não eram.
Queria ter a oportunidade de discursar para os amigos de Jó e os irmãos de José, mas não somos contemporâneos. (graças a Deus por isso!!). Então me contento em endereçar algumas palavras aos sátrapas modernos. Eles ainda existem. Estão por toda a parte. São como pragas na agricultura, gafanhotos na lavoura, cupins na madeira, vermes na podridão. Andam sempre em bando. Ainda hoje se vestem de amigos e de irmãos. Já se adaptaram a viver uma vida dupla, mascarada, sem caráter. Não sabem o que é ter brio na face, respeito na fala e amor no coração. São dominados pela inveja. Eles nunca chegam a lugar nenhum. Estão sempre parados. Contentam-se na mediocridade de retro-alimentar as calúnias que divulgam. O momento mais prazeroso para os caluniadores aves de rapina é quando se encontram em uma roda, em volta de uma mesa, ou em um semicírculo em uma esquina qualquer da vida e gastam horas armando covas, criando laços, inventando estratégias e elaborando conversas frívolas, banais e triviais para desmoralizar alguém que de alguma forma lhes incomoda. Cuidado! Quem perde muito tempo falando dos outros tem pouco tempo para cuidar de si mesmo, quem perde o sono com o sonho do próximo, tem pouca disposição durante o dia. Escutem amigos de Jó e irmãos de José! Apagar a estrela dos outros não fará com que as vossas brilhem mais; e atirar barro em alguém é perder terreno. Sátrapas modernos, o melhor lugar para criticarem o próximo é na frente dos vossos espelhos. Vejam a vossa própria imagem funesta, antes de falarem qualquer palavra.
Postado por Pastor Israel Trota