As mulheres são instadas a submeter-se a seus maridos “igualmente” (v.1), isto é, da mesma forma como Jesus se submeteu a seus inimigos (2.21-23) e os escravos, a seus senhores (2.18-20). Tal sujeição cumpre a lei de Cristo e cala a boca de críticos pagãos que, com muito prazer, insurgir-se iam sobre qualquer comportamento considerado ignóbil.
Como no caso do servo, a esposa desfruta a liberdade total concedida pela inclusão da família de Deus (v.16). Jesus, a quem pertencem toda a honra e a glória, inclinou-se para lavar os pés de seus discípulos, exatamente como um servo doméstico. Em seu serviço humilde e em sua morte voluntária, ele deixou um modelo (v. 21) para todos os seus seguidores imitarem. Se as mulheres levassem a sério o exemplo de seu Senhor, muitos problemas de relacionamento matrimonial iam desaparecer.
Uma esposa que teme a Deus
Examinemos como Pedro retrata a atitude e o espírito de uma esposa temente a Deus. Ela é submissa a seu marido. A palavra grega hupotasso foi tomada por empréstimo do vocabulário militar significa “colocar num posto”. As instituições sociais de Deus, em algumas formas, são como um exército com seus níveis bem definidos de autoridade. Deus ordenou que os maridos assumam a liderança e que as esposas o sigam, pois esse é o modo que ele planejou para a organização da família. Seria um erro concluir que, pelo fato de a mulher ser uma pessoa melhor e mais madura, ela deve ter autoridade sobre o marido.
A submissão de um soldado à autoridade de um capitão ou general não diz nada sobre o caráter de nenhum deles. A cadeia de comando é mantida pela submissão aos que estão num posto mais alto. Há uma exceção: quando um marido ordena que sua esposa desobedeça às leis superiores de Deus, ela deve obedecer a Deus; não a um homem.
Ela é sábia o bastante para entender que vai ganhar mais facilmente o marido pagão para a fé em Cristo com gestos atraentes do que pregando e criticando. O comportamento que mais condições têm de impressionar maridos não cristãos e cristãos semelhantemente pode ser resumido em duas palavras: ”honestidade” e “temor” (v.2). A conduta dela não desperta ciúmes (como faria uma esposa paqueradora) nem ressentimento (como aconteceria com uma mulher desrespeitosa).
A mulher que teme ao Senhor tem como prioridade a beleza interior, não seu penteado, suas joias e suas roupas (v.3; Is3.18/24; 1Tm 2.9). Não precisamos ir longe, nem no passado nem no presente, para encontrar os que condenam todos os adornos, penteados ou roupas bem-talhadas. Indubitavelmente isso seria uma interpretação errônea da intenção de Pedro. São valores e prioridades que necessitam de um fundamento cristão. Hoje, muitas mulheres gastam dinheiro demais com a aparência. Contudo, a questão da mordomia não deve ser esquecida.
Aos olhos de Deus, a beleza mais atraente que uma mulher pode alcançar é a que irradia de dentro: seu caráter, basicamente composto de delicadeza (compaixão, paciência e desprendimento) e “espírito manso” (fé, confiança em Deus e esperança). Assim como nós, Pedro conhecia mulheres assim. Suas personalidades atraem como a beleza rara de uma obra-prima. Pedro faz menção a Sara, que ilustra os traços principais que as esposas cristãs (“que esperavam em Deus”) devem emular.
Sara exemplificou seu espírito submisso pela obediência e mostrou seu respeito ao dirigir-se a Abraão como “senhor” (Kurion; v.6). Todas as mulheres, escolhidas como Sara para ostentar o nome de Cristo, serão conhecidas como suas filhas. Isso representa a expressão hebraica na qual o termo “filhas” traz o caráter de seus progenitores. As “filhas de Sara” escolherão o caminho certo e não cederão ao medo (Pv 3.25, 27). “Não temendo nenhum terror” seria uma tradução mais literal do grego. Pedro desejava que as esposas cristãs da Ásia Menor confiassem na graça e no poder de Deus para enfrentar toda ameaça, por mais intimidante que fosse.
Os maridos
Os maridos “igualmente” devem ter consideração (v.7). Pedro lembra os maridos cristãos de que o fato de ocupar a posição de liderança na família não apoia um ditador no lar. Antes, tendo tomado Jesus por exemplo, devem ser humildes e misericordiosos (v.8). Para que o marido tenha consideração (“viver de acordo com o conhecimento”, no original), ele deve reconhecer e buscar satisfazer as necessidades de sua esposa. Pedro pode ter pensado particularmente na intimidade sexual, visto que ela é a parte mais frágil (grego, “instrumento” ou “vaso”). As esposas e seus maridos são herdeiras “da mesma graça de vida”. Isso pode significar o privilégio de trazer filhos ao mundo ou, mais provavelmente, o fato de serem herdeiras da vida eterna (cf. 1.4). Elas merecem honra e respeito (v.7).
Maridos e esposas devem orar juntos, tomando cuidado para que não ocorra nada entre eles que possa atrapalhar suas petições. Assim como a iniquidade oculta no coração de alguém interrompe a comunicação com Deus, o pecado não confessado num relacionamento matrimonial significa uma linha telefônica cortada entre o céu e a terra. O marido deve viver com a esposa numa intimidade física digna de uma união cristã. Eles devem viver “com discernimento”, o que se refere sobretudo ao conhecimento sexual, mas não descarta a unidade intelectual. A comunicação e o diálogo são elementos indispensáveis num casamento bem-sucedido.
::Russell Shedd