sábado, março 21, 2015

Nós, os perfeitos!

“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus”(Mateus 5.48).
Estas expressões de Jesus não foram e nem são uma opção de vida que, como seus discípulos, possamos escolher praticá-las ou não. Trata-se de uma ordem categórica que, a todo o custo e assumindo todo o ônus de sua responsabilidade, tem que ser mesmo praticada por todos os seus seguidores. Ordem é ordem mesmo, que não propõe opção de escolha. E é exatamente aí que está situado o problema para muita gente.
Ao que se parece para a maioria dos próprios seguidores de Jesus, em todos os tempos, lugares e circunstâncias, a ordem supracitada é tida como uma utopia, já que muitos consideram esta ordem por demais difícil e até mesmo inatingível, considerando-se incapazes de praticá-la. Seria mesmo essa ordem de Jesus uma utopia impraticável? Essa ordem é para todos ou para alguns dos discípulos de Jesus? Como entender e praticar, em nossas vidas práticas, essa experiência de perfeição, cobrada por Jesus? Vale a pena acompanhar e meditar nos esclarecimentos a seguir, a fim de que essas e outras questões, sobre essa ordem em foco, sejam respondidas e, conseqüentemente, todos nós vejamos que Jesus, em hipótese alguma, cobraria de todos nós uma experiência utópica, impossível e difícil de ser praticada.
Observamos, no decorrer de todo o Sermão do Monte, que Jesus se referiu repetidas vezes aos “gentios, publicanos e pecadores”. O pronome pessoal “vós” acentua que as expressões de Jesus, inseridas no Sermão do Monte, posto que, dirigidas à multidão de um modo generalizado, considerando Mateus 5.1, são mais especificamente destinadas a seus discípulos, já que estes últimos compunham e compõem um grupo selecionado, em condições de praticar esta exigência, conforme Efésios 2.10 e Tito 2.14. Não há de se esperar que os descrentes, que obviamente não experimentaram a conversão a Jesus e a transformação de suas vidas, tenham qualquer possibilidade e capacidade para praticar a ordem em foco. A perfeição é experiência para todos os cristãos, e só para eles; Não sendo a perfeição uma opção para alguns cristãos especiais, e sim, para todos os cristãos indistintamente.
Na verdade, o pronome pessoal “vós”, além de demonstrar que a exigência de perfeição não é possível para os descrentes em Jesus, também posiciona uma antítese a esses dois tipos de vida. Sabemos que os descrentes, que desconhecem a Jesus, e por isso mesmo não são transformados, estão impossibilitados de experimentarem a perfeição, já que vivem sob a égide de satanás, num comando e ambiente deturpado neste mundo satânico, conforme Efésios 2.2 e 3, bem como 1 João 5:19. Obviamente que a própria vida cristã, por sua natureza e propósito, estabelece uma antítese, contrária ao que é conhecido como “mundanismo”, conforme Tiago 4.4 e 1 João 2.15-17. Isso posto, entendemos que a perfeição é impossível para este mundo sem Deus e possível para os cristãos, não podendo, em hipótese alguma, ser experimentada por alguém que tenta uma vida duvidosa e dúbia, simulando ser cristão, quando realmente não o é e, por isso mesmo, está com um pé na igreja e outro no mundo. A perfeição é exclusiva, própria e essencial para o cristão, conforme Gênesis 17.1.
A conjunção subordinativa conclusiva “pois” tem tudo a ver com o contexto anterior que Jesus vinha tratando no Sermão do Monte, conforme Mateus 5:
1- As bem-aventuranças descrevem as várias experiências desse estilo de vida de perfeição, vida que coloca o cristão em uma posição de superioridade e conforto. Tudo o que este mundo promete para as pessoas terrenas, em hipótese alguma, jamais pode alcançar o nível de perfeição, descrito nas bem-aventuranças experimentadas pelo cristão. Esse estilo de vida, mesmo vivido nesta Terra, é sobrenatural como ensaio para a gloriosa eternidade do Céu, a ser vivida pelo cristão, após a morte.
2- Como “sal e luz”, esse bem-aventurado cristão só pode assim se ativar, como perfeito que é. Sendo ineficiente e, portanto, imperfeito, nenhum descrente em Jesus, assim como ninguém com personalidade duvidosa e dúbia, tem condições de salgar e iluminar este mundo sem Deus.
3- Toda a Lei de Deus, explicitada em toda a bíblia, e não apenas no Velho Testamento, expõe os padrões divinos para uma sociedade perfeita. É por isso que, ao lermos todas as Escrituras Sagradas, tantas vezes nos vemos como “incapazes” para praticar os padrões divinos. A Bíblia não descreve os padrões circunstanciados pela sociedade terreal em que vivemos. Como livro sobrenatural e divino que é, a Bíblia explicita a vontade original de Deus para a humanidade que Ele criou. Por isso que Jesus veio para cumprir a Lei, como perfeito que foi e espera que todos os cristãos cumpram essa Lei, “excedendo a justiça dos escribas e fariseus”, que caracterizam falsos religiosos de todos os tempos. O nível de perfeição cristã está acima das religiosidades humanas.
4- A propósito desse cumprimento da Lei, Jesus demonstrou que essa Lei tem que ser, primeiramente, experimentada no coração do ser humano para, só posteriormente, ser praticada em gestos, palavras e ações. A perfeição cristã é interiorizada no coração, antes de ser exteriorizada pelo corpo. Jamais esperemos perfeição, de fora para dentro, mesmo porque essa perfeição não é terrena. É o que percebemos em Deuteronômio 6:6 e Salmos 119.11.
5- É do coração que brotam todos os relacionamentos interpessoais. Todas as desarmonias, desajustamentos, discórdias, contendas e choques nos relacionamentos interpessoais, o que demonstra imperfeição de vida, são a exteriorização de um coração imperfeito que, por isso mesmo, se exterioriza através de imperfeições. O que tanto se espera em relacionamentos aperfeiçoados, para uma coabitação pacífica entre as pessoas e grupos sociais, há de vir da perfeição interior. Todos os tipos de inimizades e desajustamentos descritos por Jesus no Sermão do Monte, que caracterizam imperfeições, facilmente podem ser corrigidos pela perfeição interior do coração. É o que percebemos em Provérbios 4.23.
6- A perfeição do coração propicia a motivação moral, que está por detrás de todos os comportamentos morais ilibados. O que tanto a sociedade almeja, programa e labuta para alcançar, em termos de perfeição moral, torna-se utópico e impraticável, sem a motivação moral de um coração perfeito, que se externa em perfeições morais. É o que percebemos em Marcos 7.21-23 e Filipenses 4.8.
7- Jesus declarou em Mateus 12.34.“como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca”. Estamos circundados por um palavreado imperfeito, que soa mal e dói não apenas a nossos ouvidos, como também a nossas mentes e corações, se desejamos coabitar com as pessoas em termos de perfeição. Há tantos modos de falar que ferem e doem mais do que qualquer arma mortal. Esse vocabulário, eivado de ruidosas imperfeições, caracteriza pessoas imperfeitas de coração e imperfeitas de vida moral. Como é agradável ouvir o cristão, que prima por perfeição!
8- Na condição de estar perfeito o coração e com o aperfeiçoamento da linguagem e dos gestos, o corpo físico está em condições de apresentar-se a Deus, como perfeito. É o que observamos em Romanos 6.13b.”... apresentai os membros do vosso corpo a Deus, como instrumentos de justiça (ou perfeição)”, bem como Romanos 12.1.”... apresentai vossos corpos a Deus em sacrifício vivo, santo e agradável (de modo perfeito)”.
As exigências legais e estatutárias de Deus, cobradas através do texto e do contexto do Antigo Testamento, demonstraram à humanidade sua incapacidade de cumprir a Lei de Deus, estando esta humanidade, no final do Antigo Testamento, em juízo divino, “podendo ser ferida com maldição” ( Malaquias 4.6 ). Por isso que Paulo declara em Romanos 3.20.“Nenhuma pessoa será justificada diante de Deus pelas obras da Lei, porque pela Lei vem o conhecimento do pecado”, colocando essa pessoa em condições de maldição, por ver-se reprovada por Deus. A Lei cria um clima de imperfeição, pois coloca o ser humano como incapacitado para estar diante de Deus. Bem por isso, em 2 Coríntios 3.6b, 07a e 9a, Paulo declara que a Lei, dada por Deus no Monte Sinai, “gravada em pedra, foi um ministério de condenação e morte porque a letra da Lei mata...”.
E, o que dizer de tantos seres humanos, através de toda a história da humanidade, que jamais conheceram a Lei de Deus, exarada nas Escrituras Sagradas? Estariam esses desconhecedores dos padrões de perfeição divina “isentos de culpa”, por desconhecerem a Bíblia? “E, se alguma pessoa pecar e fizer contra algum de todos os mandamentos do SENHOR o que se não deve fazer, ainda que o não soubesse, contudo, será ela culpada e levará a sua iniqüidade” – Levítico 5.17. “Porque todos os que sem Lei pecaram sem Lei também perecerão...” – Romanos 2.12a. Para compreender claramente o que acontece com aqueles que, desconhecendo a Bíblia Sagrada, praticam todo tipo de imperfeições, vale a pena ler a terrível descrição, registrada em Romanos 1.18-32. Esse texto bíblico declara que tantos seres humanos, mesmo como desconhecedores da Bíblia ou Lei Escrita por Deus, todos conhecem sobejamente o Universo criado por Deus, instintiva e empiricamente, sabem que “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das mãos divinas” – Salmos 19.1. Por isso mesmo, todos indistintamente são “inescusáveis”. É por demais degradante e chocante a lista de pecados, cometidos pela humanidade sem Deus, conforme os versetos 28 a 32, além de forjarem a idolatria com falsos deuses e praticarem todos os tipos de vícios sexuais ilícitos. O texto bíblico é bem claro que, por tudo isso que praticam, são “inescusáveis”, tendo que responder por seus atos diante do Juízo de Deus, neste mundo e no mundo vindouro. Portanto, todas as imperfeições humanas são cobradas por Deus.
Qual a esperança que tem essa humanidade sem Deus, imperfeita e condenada, para mudar esse quadro e idealizar uma vida perfeita, diante de Deus e dos homens?Pelo exposto, mais uma vez entendemos que a perfeição cristã só é possível a partir da conversão a Jesus Cristo. Assim é que lemos em Efésios 1.4: “como Deus, o Pai, nos elegeu em seu Filho, Jesus Cristo, antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos, irrepreensíveis, para andarmos diante dele, em amor”. Esses quatro propósitos divinos, para nos eleger, caracterizam o cristão como “perfeito”. Essa conversão a Jesus, que nos tornou perfeitos, é baseada na perfeição da obra realizada por Jesus Cristo, ao morrer na cruz em nosso lugar, conforme João 17.4.“eu glorifiquei-te na Terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer”, bem como Hebreus 7.25.“Portanto, Jesus Cristo pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles”.
É o caso de entendermos, a essa altura, que todos os convertidos a Jesus, por isso mesmo, são tidos como “perfeitos”? Pode parecer, que não o são, entretanto a Bíblia mostra que todos os salvos por Jesus são “perfeitos”.
“À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” – 1 Coríntios 1.2. Sabendo que a igreja em Corinto era carnal (1 Coríntios 3.1-3), como Paulo os identificou, com esse estilo de vida, como “santificados e santos” ?! Como podem seres humanos, carnais assim como a igreja de Corinto, experimentar esse grau de perfeição?
Essa perfeição é possível porque, conforme Romanos 5.05b, quando qualquer pessoa recebe a operação divina da conversão a Jesus, isso acontece por causa do amor de Deus: “... o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado”. E toda a Lei de Deus, registrada na Bíblia Sagrada, é cumprida pelos convertidos, exatamente nessas condições do amor que recebeu da parte de Deus: “... o cumprimento da Lei é o amor” – Romanos 13.10b. E esse amor de Deus, derramado em nossos corações, colocando-nos em condições de cumprir a Lei divina, é “o vínculo da perfeição” – Colossenses 3.14. Por isso, todo cristão é perfeito, em natureza e essência.
Na verdade, quando Jesus declarou “sede perfeitos”, Ele referiu-se ao propósito original da criação do ser humano, lá no princípio do mundo. O termo “perfeito” significa, etimologicamente, “para o que é feito”. Significa que o ser humano se direciona no rumo da perfeição, dentro dos parâmetros estabelecidos por Deus para esse ser humano viver. Dá para entender facilmente isso, quando imaginamos os vários níveis de perfeição, dentro dos parâmetros das coisas criadas por Deus como por exemplo: cada animal (doméstico, selvagem, marítimo ou aéreo) é perfeito dentro dos limites do seu modo de ser (o gato é perfeito como gato, o passarinho é perfeito como passarinho, o peixe é perfeito como peixe, etc). Também cada invenção do ser humano é perfeita, dentro de seus limites, como por exemplo: o alfinete é perfeito como alfinete, a bicicleta é perfeita como bicicleta, o avião é perfeito como avião, a aeronave é perfeita como aeronave, o edifício é perfeito como edifício, a casa é perfeita como casa, etc... Assim sendo, o ser humano é perfeito, como ser humano e dentro dos parâmetros estabelecidos por Deus para esse ser humano realizar sua perfeição humana. Deus é perfeito como Deus, dentro de seus parâmetros divinos, sendo que o homem é perfeito como homem, dentro dos parâmetros humanos. Compreendemos esses níveis de perfeição, divina ou humana, decodificando Deus e o homem, como tal qual se situa em sua própria vivência.
Se podemos entender que, originalmente e ao criar o mundo, Deus estabeleceu limites e parâmetros para todo ser humano ser o que é, tal como homem natural, mais claro fica isso ainda ao verificarmos esse nível de perfeição, no propósito da nova criação ou conversão a Jesus. O ser humano, ao converter-se a Jesus, é espiritualmente nascido de novo “para o que foi feito”. É o que entendemos, em Efésios 2.10: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”. Através da conversão, somos criados em Cristo Jesus, para as boas obras (propósito definido em seus parâmetros) e essas boas obras já foram preparadas por Deus, de antemão, como obras de Deus propriamente ditas, e não obras humanas, qualificando-se como obras perfeitas, exatamente porque foram já preparadas pelo próprio Deus e são obras dEle, colocadas no caminho do cristão. Tudo que temos que fazer agora é simplesmente andar por sobre essas obras divinas e dentro da prática dessas obras divinas, natural e espontaneamente. Dentro desse esclarecimento, as obras espirituais são perfeitas e boas, porque são de Deus. E essas obras perfeitas estão inseridas dentro da natureza e personalidade do cristão. Por isso, o cristão é perfeito.
A essa altura, percebemos que a perfeição cristã é real, não com base no ser humano propriamente dito, mas com base central e especial em Jesus. Somos justos e, por isso mesmo perfeitos, em Jesus: “Jesus Cristo, que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” – 2 Coríntios 5.21. Em Gálatas 2.20, Paulo se refere à possibilidade de viver dentro da fé cristã, não propriamente em si mesmo, mas centralizado em Jesus porque “Cristo vive dentro dele”. Essa perfeição, possibilitada tão somente em Jesus, está bem clara em João 15.1-7, como resultado de “estar dentro de Jesus”. Conforme João 17.23, a perfeição cristã só é mesmo possível dentro da unidade com a Trindade Divina, já que, essencialmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um, em natureza e essência, sendo perfeitos entre si, o cristão é perfeito, participando dessa unidade trina.
O milagre da conversão a Jesus torna o ser humano espiritualmente perfeito, por estar ele inserido dentro da natureza e personalidade divinas de Jesus Cristo: “porque em Jesus Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo principado e potestade” – Colossenses 2.9 e 10. Como cristãos, somos “participantes da natureza divina”, conforme 2 Pedro 1:4. Vivenciamos as glórias da perfeição cristã porque, como por espelho, refletimos a própria glória de Jesus Cristo: “Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” – 2 Coríntios 3.18.
Ao lermos as advertências de Jesus, registradas em Mateus 11.20-24, observamos que Ele coloca as cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum, com mais rigor diante de Deus, no Juízo Final, do que Sodoma, Tiro e Sidom. Desse modo, temos a impressão de que no inferno, que castigará os rebeldes ímpios, haverá diferentes graus de punição, conforme a relação de conhecimento que cada pessoa tem aqui na Terra, acerca de Jesus Cristo.
Do mesmo modo, os ensinamentos de Jesus em Lucas 12.47 e 48, nos fazem acreditar que diferentes cobranças Deus faz, em seu juízo sobre os salvos. A impressão é de que, graus de obediência e perfeição cristã são estabelecidos, considerando os vários níveis de conhecimento que um cristão tem a respeito das coisas de Deus, bem como, como esse cristão reage, diante desse conhecimento recebido.
Em termos bem práticos, temos a impressão de que o mesmo pecado, cometido por alguém que jamais ouviu o evangelho; ou cometido por alguém que já ouviu várias vezes falar de Jesus e a isso não deu crédito; ou cometido por alguém que freqüenta assiduamente os cultos e convive com os cristãos; ou cometido por alguém que já se entregou a Jesus e se prepara para o batismo nas águas; ou cometido por alguém que já foi batizado e tem dois anos de vida cristã; ou cometido por alguém que já é líder eclesiástico porque está há vinte anos na igreja; ou cometido por alguém que exerce o Ministério da Palavra de Deus; sim, esse mesmo pecado igualmente cometido por diferentes pessoas, com vários níveis de conhecimento bíblico e cristão, receberá diferentes cobranças e punições. São diferentes graus de perfeição cristã, dependendo dos diferentes níveis de conhecimento e prática cristã e eclesiástica.
Exatamente por isso, em 1Coríntios 13.10-12, focalizando esses diferentes níveis de conhecimento espiritual e perfeição cristã, Paulo aborda essas diferenças, usando os termos “menino”, “adulto” e “em parte”. Neste mesmo contexto de diferentes graus de conhecimento e perfeição, o escritor aos Hebreus 5.12-14 exorta seus leitores, quanto aos negligentes que não progrediram no conhecimento na vida cristã e continuam meninos, identificando os mais desenvolvidos na fé como “exercitados em seus sentidos espirituais”, “experimentados” e “perfeitos”. Dura advertência é essa para aqueles que continuam em suas imperfeições, descuidando do progresso na vivência cristã.
O termo bíblico “perfeito” parece identificar todo e qualquer cristão, que foi alcançado pela perfeita obra de Jesus, na cruz, e recebeu a perfeição da nova natureza divina, sendo desse modo, que todos os cristãos são indistintamente perfeitos. Ato contínuo à vida cristã, entretanto, devemos estar alertados para não continuarmos na prática das imperfeições mundanas, ou descuidarmos naturalmente do progresso nas perfeições cristãs, diferenciando-se os vários níveis de perfeições, no meio da igreja – Efésios 4.01.
Ainda nessa mesma ênfase, parece haver um futuro galardão especial para os que se aperfeiçoam na vida cristã, conforme Daniel 12.3.“Os entendidos, pois, resplandecerão como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente”. Focalizando esses vários níveis de aperfeiçoamento e diferentes galardões futuros, ao abordar a ressurreição final dos salvos, Paulo enfatiza os diferentes galardões cristãos em 1 Coríntios 15.40 e 41.“E há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes, e outra, a dos terrestres. Uma é a glória do sol, e outra, a glória da lua, e outra, a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela”. Descobrimos que, os graus de luminosidade futura dos cristãos dependem dos graus de aperfeiçoamento de cada um.
Para encimar o clímax da perfeição, perseguindo progresso espiritual, obviamente cada cristão deve estabelecer ideais de perfeição, focalizando esses ideais e projetando futuros alcances. Após considerar seu passado como “perda” e “esterco”, em Filipenses 3:07 e 08, Paulo enfatiza a necessidade de colocar a perfeição cristã, como ideal a ser diligentemente perseguido, em Filipenses 3.12-14.“Não que já tenha alcançado a ressurreição final ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar a perfeição para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que haja alcançado a perfeição; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo da perfeição, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Em 1 Coríntios 1.02, Paulo coloca a santidade como qualidade normal de todos os cristãos, indistintamente; em quanto que em 1 Pedro 1.15 e 16, o escritor coloca a santidade como ideal a ser perseguido.
Em Efésios 4.11-16, Paulo focaliza o propósito para que trabalham os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, no ambiente eclesiástico. Em seu ensinamento, Paulo mostra os trabalhos dos Ministros de Deus, conduzindo as igrejas ao “aperfeiçoamento”, “edificação”, “crescimento”, “aumento”, “até que...”. Todas essas expressões colocam o cristão diante da necessidade de perseguir a perfeição cristã, como ideal a ser seriamente buscado.
Cooperando com o cristão, no árduo trabalho de buscar a perfeição, Paulo mostra, em 2 Timóteo 3.16 e 17, a importância das Escrituras Sagradas. Em 1 Pedro 5.10 Pedro expressa seu desejo de que o próprio Deus, cooperando com o cristão na busca de seus ideais espirituais, promova “confirmação”, “fortalecimento”, “fortificação” e “aperfeiçoamento”. Com esse suporte do próprio Deus, utilizando as Escrituras Sagradas, o cristão encontra mais condições espirituais para buscar a perfeição desejada.
É interessante que se observe o significado de “perfeição”. Pois, num sentido geral e popular, as pessoas pensam que perfeição tem um significado quantitativo, no sentido da realização de um certo número de obras esperadas e planejadas, por isso mesmo muitos cristãos e igrejas se preocupam demasiadamente com estatísticas de crescimento e se avaliam com base na produtividade. Mas, as mesmas pessoas sabem que a perfeição é, acima de tudo, qualitativa, no sentido de que mesmo sendo as obras realizadas em pouca quantidade, sejam essas obras, em si mesmas, qualificadas e reconhecidas como competentes para aquilo a que foram realizadas. No sentido cristão, nem mesmo Deus, nem o cristão, nem a igreja e nem os descrentes esperam que seja realizado um grande número de obras, que represente muito esforço e trabalho. O que se espera do cristão é a qualidade de suas obras, o que o caracteriza como “perfeito”. É o que aprendemos em 1 Timóteo 4.8.“Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir”.
Refletindo ainda sobre a perfeição, no sentido qualitativo, observamos o propósito para que Deus nos elegeu em Cristo, conforme Efésios 1.4.“Como também nos elegeu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos, irrepreensíveis, andando diante dele e vivendo em amor”. Observamos que Efésios 2.8-10 cita as obras do incrédulo, como incapazes de salvá-lo e as obras do cristão, após ter sido criado em Cristo Jesus, como “boas obras”. Notamos também o propósito para que Deus permitiu o derramamento do sangue de Jesus, formando a igreja, conforme Tito 2.14.“Jesus se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para si um povo seu, especial, zeloso e de boas obras”. Também nesse sentido qualitativo, observamos em 1 Pedro 2.9 quem são os cristãos que compõem a igreja: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
A perfeição qualitativa do cristão o caracteriza em sua integridade espiritual e moral, posicionando-o como completo e realizado em si mesmo, competente para estar diante de Deus e dos homens. Basta verificarmos as Escrituras, registradas em Gênesis 5.24, 6.9, 17.01; Jô 1.1; Deuteronômio 18.13.
Ao realizarmos as boas obras, como cristãos, caracterizando a perfeição, mesmo que essas obras não apresentem tanta quantidade diante daqueles que as observam, mas necessário se faz que essas obras sejam realizadas com zelo e cuidado, num acabamento, sem deixar resquícios de negligência e frustração. É o que observamos em Tiago 1.04.“Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”.
Vivenciando o cristão uma vida de perfeição e qualidade, em hipótese alguma e sob nenhum pretexto ou circunstância, pode esse cristão apresentar uma vida dupla e duvidosa, servindo a Deus e ao diabo ao mesmo tempo, com um pé na igreja e outro no mundo, apresentando perfeições e imperfeições, simultaneamente. É o que observamos em Josué 24.15; 1 Reis 18.21;  Mateus 6.24; Tiago 4.; 1 João 2.15-17.
A referência de Paulo, em Filipenses 3.12, coloca a perfeição desejada como alvo supremo de sua vida, tão somente após a ressurreição final. A mesma conotação futura de perfeição é verificada em 1 Coríntios 13.9,10 e 12. A perfeição cristã, vivida pelos cristãos e igrejas de Jesus Cristo aqui na Terra é, na verdade e como acabamento de tudo, um ensaio para a Eternidade, quando viveremos em perfeição absoluta diante do Senhor.
Vivamos o dia de hoje como se Jesus Cristo estivesse voltando agora e já !!!
Bispo Manoel Ferreira






Presidente Vitalício da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (CONAMAD)