quarta-feira, junho 11, 2014

Privilégios exigem responsabilidades; Por Bispo Manoel Ferreira

De um modo geral, toda a humanidade vibra com recompensas, privilégios, direitos, elogios, homenagens e condecorações. Possivelmente apenas a minoria dos seres humanos está acostumada a vibrar positivamente com deveres, obrigações e responsabilidades. As pessoas se esquecem que todos os privilégios exigem responsabilidades. Se as responsabilidades não são assumidas, naturalmente os privilégios não têm muito valor, não satisfazem plenamente as emoções da alma humana e, quase sempre, esses privilégios acabam desaparecendo no decurso da vida humana, frustrando aqueles que descumprem e omitem a execução de seus deveres, facilitando falsas liberdades e libertinagens. Os privilégios são comemorados com muitas alegrias, enquanto que as responsabilidades são assumidas, tantas vezes, com suor, sangue e lágrimas.
Em Amós 3 : 1 e 2, o profeta se refere aos privilégios dos israelitas e adverte do perigo iminente que vai aparecer, porque os israelitas não primavam pelo cumprimento de suas responsabilidades. Na profecia de Amós, principalmente entre 3 : 1 e 6 : 14, o profeta enfatiza: “Ouvi”. Esse termo é usado pelo profeta para focalizar a consciente rejeição dos israelitas aos comandos divinos, através dos profetas, acarretando o castigo divino sobre os rebeldes e desobedientes, a exemplo de Isaías 6 : 9 – 13. Em Romanos 10 : 17 – 21, Paulo focaliza que os profetas teriam que falar à nação israelita, mas que suas profecias não seriam ouvidas, pelo que Deus castigaria Seu povo e se dedicaria a falar decididamente às nações não-israelitas, que o quisessem ouvir, como explicitou Paulo em Atos 13 : 46 e 47. Foi exatamente por essa rejeição dos israelitas, que Jesus chorou sobre Jerusalém, conforme Mateus 23 : 37 e 38, declarando punição divina sobre a nação rebelde.
Deus sempre encheu Seu povo de privilégios indescritíveis. Nenhum ser humano é capaz de traduzir em palavras todos os privilégios outorgados por Deus aos seres humanos em geral, à nação israelita, como povo escolhido, e às igrejas de Jesus Cristo em toda a Terra.
Fato é que, Deus nos ama, não pelo que nós somos, mas pelo que Ele é.  Já abordamos o grande amor de Deus pelos israelitas, apesar de seus repetidos pecados - Isaías 64 : 06 e Tito 3 : 05.
O cuidado de Deus a Israel foi manifesto através da libertação da nação israelita das garras do Egito, após quatrocentos e trinta anos de escravidão, conforme Êxodo 20 : 02; Deuteronômio 10 : 15. É que Deus separou o povo de Israel e fez com ele uma aliança – Gênesis 7 : 07 e 19; Êxodo 4 : 22, 6 : 07, 12 : 33, 14 : 13, 14, 30 e 31, 20 : 02, 33 : 16; Amós 7 : 07 e 08.
Acompanhando a nação israelita no percurso de quarenta anos pelo deserto, em todas as ocasiões que se faziam necessárias, Deus ia realizando a libertação desse povo, dando-lhe vitória sobre seus inimigos e promovendo a preservação nacional. Deus revela uma providência especial: pão, água, vestes, direção, proteção e livramento. Deus conduziu o povo de Israel, perdoando seus pecados – Deuteronômio 8 : 04 e 29 : 05; Isaías 63 : 08 – 10; Amós 2 : 09 e 10.
É notável a história bélica, registrada por Josué, quando Deus concedeu vitória sobre os heteus, heveus, jebuseus, amorreus, perizeus e outros povos entre os cananeus. Assim Deus promoveu a posse da nação israelita nas terras de Canaã.
Todo o Antigo Testamento, que narra a história da nação israelita, acentua que entre os privilégios da nação israelita, do meio deste povo escolhido, Deus sempre levantou profetas e nazireus autóctones, sem que tivesse que buscá-los dentre outras nações.
Analisando todos os privilégios outorgados por Deus à nação israelita, observamos que esses privilégios procedem graciosamente, da parte de Deus. Em Amós 3 : 02, temos a expressão: “de todas as nações da Terra...”. Isso significa que, entre todas as nações da Terra, Deus escolheu Israel, por sua livre e espontânea soberania, partindo de motivação exclusivamente do próprio coração de Deus. Em Deuteronômio 7 : 06 – 08, Deus nos esclarece que escolheu a nação israelita por haver desenvolvido um profundo amor do Seu coração por esse povo, para ser-Lhe povo especial e a Ele santificado, não por ser uma nação melhor ou maior que as outras ou, em outras palavras, por outros quaisquer motivos que possamos imaginar, mas simplesmente por Sua soberana decisão. Isso significa que a escolha divina está no próprio Deus, e não em nós, e aliás, essa escolha foi realizada antes que qualquer de nós tivesse nascido, “nos tempos eternos e antes da fundação do mundo” – 2 Timóteo 1 : 09 e Efésios 1 : 04. A nação israelita nunca tomou a iniciativa da decisão de escolher a Deus, como também nenhum cristão que compõe a igreja tomou, por si mesmo, a decisão de escolher a Deus. Observemos que a origem da escolha sempre veio de Deus, e só de Deus.
Sabemos que Abraão foi o “pai” da nação israelita (Gênesis 12 : 02a) e que a escolha de Abraão procedeu tão somente de Deus. Desse modo Deus decidiu por si mesmo escolher toda a nação israelita, representada na pessoa de Abraão, como somos informados em Hebreus 6 : 13 e 14: “Pois, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente, te abençoarei e te multiplicarei”. Marcos 3 : 13 e 14 nos informa que Jesus escolheu, entre todos os possíveis e futuros discípulos, doze apóstolos, “entre aqueles que Ele quis”. É o que descobrimos em João 15 : 16: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, e vos designei para que vades e deis fruto...”. Essa soberana escolha divina está reiterada em 1 João 4 : 19: “nós amamos a Deus, porque Ele nos amou primeiro”.
A Bíblia nos ensina que, em muitos casos, a vocação ministerial procede do próprio Deus e sem interferência do vocacionado, porque se originou antes que o vocacionado nascesse, a exemplo das providências especiais no nascimento de Moisés (Êxodo 2 : 01 – 10), a vocação de Jeremias (Jeremias 1 : 05) e o apóstolo Paulo (Gálatas 1 : 15). Se somos o que somos, como cristãos e como Igreja de Cristo, é pura e simplesmente por soberana decisão graciosa de Deus.
É certo que a dádiva graciosa de Deus em nos escolher há de produzir em cada um de nós uma consciência de responsabilidade: 1) Paulo declara que ele foi o que foi, por decisão graciosa de Deus – 1 Coríntios 15 : 10a; 2) e declara Paulo que tudo ele fez para não anular e tornar vã a graça divina, através de sua vida – 1 Corintios 15 : 10b e Gálatas 2 : 21a. Por isso, temos que tomar todas as providências para jamais descuidar de viver nessa graça e não ter que descambar dela para os precipícios da vida espiritual – Gálatas 4 : 05; 3) como também declara Paulo que a graça de Deus foi a motivadora de todo o seu trabalho apostólico e continua sendo a motivação de todo o trabalho desempenhado pela igreja – 1 Coríntios 15 : 10c; 4) por outro lado, positivamente, é de nossa responsabilidade tomar todas as providências para crescermos na graça de Deus – Lucas 1 : 80 e 2 Pedro 3 : 18.
Além de vocação graciosa, a escolha da nação israelita, a escolha do cristão e da Igreja é vocação eficaz de Deus. A história da nação israelita, registrada no Antigo Testamento, prova a eficácia do cuidado de Deus com Israel. Já procuramos descrever alguns itens que detalham os cuidados divinos com Seu povo, desde a escolha de Abraão e seus descendentes (Isaque, Jacó e José), a multiplicação do povo na terra do Egito, a libertação dos israelitas das garras do cativeiro egípcio, a peregrinação de quarenta anos pelo deserto entre Egito e Canaã, a vitória sobre os cananeus e a posse de Canaã, assim como todos os itens da história subseqüentes desta nação israelita. Os cuidados de Deus sobre o cristão, em toda a história de cada vida, demonstram a eficiência das providências divinas sobre todas as circunstâncias vividas pelo cristão. Concomitantemente, toda a história da Igreja é uma prova da eficiência da graça e dos cuidados divinos.
Em Romanos 8 : 30 verificamos que todos os escolhidos de Deus certamente se desenvolvem até a glorificação. É o que verificamos também em Filipenses 1 : 06 e 2 Timóteo 1 : 12.
Tendo a certeza de que os cuidados de Deus por todos nós são tão eficazes, quando os cristãos e a Igreja duvidam desses cuidados divinos e lançam mão de outros recursos, numa tentativa de substituírem sua confiança em Deus, isso é irresponsabilidade que ofende a Deus. Constantemente chamamos Deus de “irresponsável”. E isso é seriíssimo.
Essa vocação divina, graciosa e eficaz, é exclusiva. Em Amós 3 : 2 Deus usa o termo “escolher”. Escolher significa conhecer, comunicando a idéia das íntimas relações de amor, próprias do casamento, como em Gênesis 4 : 01. Essa escolha propicia uma intimidade que só o escolhido pode usufruir, a exemplo de Abraão (Gênesis 18 : 19 e Tiago 2 : 23), a exemplo de Moisés (Êxodo 33 : 11a), a exemplo de Zorobabel (Ageu 2 : 23), a exemplo da convivência entre Jesus e os doze apóstolos (Marcos 3 : 13 e 14; João 17 : 25). Essa exclusividade entre a nação israelita era tão profunda, que Deus sempre esteve disposto a punir todos aqueles que se opusessem aos israelitas (Isaías 43 : 01; Jeremias 2 : 02 e 03), como Deus sempre está disposto a punir os opositores da Sua Igreja, como propriedade particular (Mateus 16 : 18).
A exclusividade da nação israelita fez com que o Senhor Deus lhe privilegiasse com todos os dons e possibilidades (Romanos 9 : 04 e 05), como a exclusividade da Igreja lhe garante todos os privilégios divinos (Efésios 1 : 03). Com tanta exclusividade e intimidade divina, como Deus pode reagir diante da irresponsabilidade da nação israelita, dos cristãos e da Igreja, quando admitem outras prioridades, além do Senhor Deus, a exemplo de Êxodo 20 : 02 – 06; Mateus 6 : 24; Tiago 4 : 04 e 1 João 2 : 15 – 17 ?
Em Amós 3 : 03, Deus declara que escolheu a nação israelita com propósitos definidos. Deus é teleológico. Porque todo o Universo, os anjos e os homens criados por Deus têm um propósito definido. Tudo o que Deus fala tem um propósito. Tudo o que Deus faz tem um propósito. As pessoas são irresponsáveis e erram seriamente quando não entendem e negligenciam o propósito de Deus para suas vidas.
Para que Deus deu tantos privilégios à nação israelita ? “E chamou Moisés a todo o Israel e disse-lhes: Ouve, ó Israel, os estatutos e juízos que hoje vos falo aos ouvidos; e aprendê-los-eis e guardá-los-eis, para os cumprir” – Deuteronômio 5 : 01. Observemos os detalhes de Deuteronômio 10 : 12: “Agora, pois, ó Israel, que é o que o Senhor, teu Deus, pede de ti, senão que temas o Senhor, teu Deus, e que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma ?”. Os mesmos propósitos divinos para a nação israelita estão em Miquéias 6 : 08: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus ?”. É claro que Deus não poderia deixar sem punição a nação israelita que tão distante andou destes propósitos divinos, vivendo irresponsavelmente.
Como cristãos e como Igreja de Jesus Cristo, temos que observar bem os propósitos divinos para nossas vidas. Deus não nos escolheu por causa de nossa fé, mas para nossa fé – Atos 13 : 48. Deus não nos escolheu por causa da nossa obediência, mas para a nossa obediência – Atos 5 : 32; 1 Pedro 1 : 02 e 22. Deus não nos escolheu para vivermos em pecado, mas para estarmos libertos do pecado: “...nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele ? ” – Romanos 6 : 02.
Deus não nos escolheu por causa das nossas obras porque nossas obras são imundas e pecadoras: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam” – Isaías 64 : 06. Deus não nos escolheu “pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” – Tito 3 : 05.
Deus nos escolheu para que andemos em novidade de vida, em boas obras – Efésios 2 : 10. Para que pratiquemos essas obras de justiça, conforme o propósito de Deus, Ele nos trata com exclusividade e intimidade – Tito 2 : 14. Em Efésios 1 : 04 – 06, Paulo nos informa que “fomos eleitos antes da fundação do mundo para sermos santos, para sermos irrepreensíveis, para andarmos diante dEle, para andarmos em amor, para vivermos com dignidade de Seus filhos, a fim de vivermos exclusivamente para Ele, para executar Sua vontade nesta Terra”. Tudo isso significa que não podemos viver irresponsavelmente, mas “precisamos ser dignos de viver conforme a vocação com a qual fomos chamados por Deus” – Efésios 4 : 01. Vivendo irresponsavelmente e em pecado, estamos em desacordo com Deus e somos inimigos dEle – “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo ?” – Amós 3 : 03. A necessidade de concordância com Deus fica muito clara, se quisermos andar com Ele, bastando meditar em  Gênesis 17 : 01 e 1 João 2 : 06. O próprio Deus nos adverte sobre a necessidade de estarmos em concordância com Ele, senão ficam impedidos os privilégios de comunhão - Jeremias 3 : 14.
A profecia de Amós avisa a nação israelita que teria que puni-la porque Israel não estava mais em concordância com Deus e, obviamente, ambos não poderiam andar juntos – Isaías 55 : 08 e 09; 59 : 01 e 02; Amós 3 : 03; Tiago 4 : 04 e 1 João 1 : 05.
Por viver na contramão da vontade de Deus, a nação israelita tinha uma confiança espúria nele e uma visão supersticiosa da eleição divina, achando que Deus se deleitaria neles, mesmo vivendo em seus pecados. Obviamente que essa relação entre Deus e a Igreja não pode acontecer se vivermos irresponsavelmente e numa piedade misturada com pecado – Isaías 1 : 12 - 20.
Os privilégios divinos despertam responsabilidades na Igreja e desenvolvemos essa relação de compromisso, não propriamente por um peso de obrigações e deveres, mas propriamente em uma relação de intimidade e amor entre Deus e nós – João 21 : 15 – 17; 2 Coríntios 5 : 14 e 1 João 3 : 01.
A escolha divina, em relação à nação israelita e à Igreja, é irrevogável, pois Deus não anula Suas doações e privilégios – Romanos 11 : 29 e Tiago 1 : 17. Por isso, Deus disciplina o seu povo irresponsável, não para destruí-lo, mas para restaurá-lo, conforme Hebreus 12 : 07 – 11.
É exatamente por isso que muitos cristãos vivem “a trancos e barrancos, em altos e baixos na vida”, sofrendo tanto e sem saber o porquê do sofrimento. Reconheçamos os privilégios de Deus a todos nós e tornemo-nos mais responsáveis, como respostas a Deus por tantos bens que Ele nos outorga. E, que para isso, Deus nos abençoe !

GPS Gospel