Durante uma conversa entre amigos comentei que tinha dúvidas sobre a minha capacidade de fazer uma determinada coisa e logo um deles disparou a tão famosa frase: “Juliano, é como andar de bicicleta”. Já notou que toda vez que alguém se refere a algo que não pode ser esquecido, a bicicleta sempre é lembrada? É difícil encontrar alguém que não tenha muitas recordações ligadas a esse incrível meio de transporte. Eu, por exemplo, tenho muitas.
Foi numa cargueira azul que entreguei jornais para pagar a faculdade. Um pouco antes, no início da adolescência, ganhei os primeiros salários numa oficina consertando bicicletas. Mas é da infância que vem as mais belas e fortes lembranças. Assim como qualquer criança sempre desejei ter uma bicicleta. Posso fechar os olhos e ainda ver o dia que meu pai chegou em casa com uma de presente. Não era exatamente o que eu imaginava, mas o suficiente para me deixar encantado.
Ela era pequena e tinha um par de rodinhas na traseira. Sem a necessidade de equilíbrio, subi e dei a primeira pedalada. Foi maravilhoso! Não demorou muito para as rodinhas serem abandonadas e logo percebi que precisava de um modelo maior. Quando alguém passava com uma bicicleta grande e com várias marchas, não tinha dúvidas. Queria uma igualzinha ou pelo menos parecida.
Acordava todos os dias pensando na minha mountain bike. Como todo filho faz, também fui falar com o único que poderia realizar o meu desejo. Pedi ao meu pai várias vezes. No começo ele não respondia nem que sim e nem que não. Aquele silêncio me incomodava muito.
Fui crescendo e comigo também o desejo de ter uma bicicleta nova.
- Pai, quando o senhor vai me dar uma mountain bike?
- No tempo certo, dizia ele.
Certa vez voltávamos da casa de minha avó caminhando e empurrando a bicicleta do meu pai. Era alta, não tinha marchas e para mim era um modelo para pessoas mais velhas. Naquele dia ele me fez um desafio.
- Juliano, sobe na bicicleta e vai pedalando.
- Pai, mas ela é grande demais pra mim.
- E como você quer ter uma mountain bike?
Minhas pernas começaram a tremer. Eu queria mesmo ter uma grande bicicleta, aliás, eu queria muito e não parava de pensar e pedir por ela. Mas, de repente, me vi incapaz.
Meu pai, pacientemente, me ajudou a subir naquela Monark modelo Barra Forte. Eu mal conseguia alcançar o banco.
-Tente pedalar em pé. Eu vou segurar na garupa para que você mantenha o equilíbrio, filho. Disse meu pai.
Eu sabia que podia confiar nele. Então fiz o que me mandou e comecei a pedalar.
- Você está conseguindo, filho.
Quando percebi, já tinha percorrido mais que um quarteirão e quando olhei para trás, notei que meu pai já não segurava mais a garupa. E, antes de me desesperar, ouvi o grito:
- Lembre-se, é como andar na bicicleta menor... Você já sabe o que fazer.
Naquele dia entendi que o tempo da mountain bike estava próximo e compreendi o comportamento do meu pai diante dos meus insistentes pedidos. Eu tinha que estar preparado.
Quantas vezes pedimos algo maior a nosso Pai e nos chateamos diante da aparente falta de resposta. Não entendemos que há um tempo para todas as coisas. Quando Ele não nos atende não é porque não nos ouviu ou não quer que o nosso desejo seja uma realidade. Mas antes é preciso crescer. Se não dominarmos aquilo que é alto, corremos o risco de cair.
Engraçado é que muitas vezes pedimos tanto por algo e quando esse algo está na nossa frente, temos medo e nos sentimos incapazes. Nesse momento o Pai vai nos desafiar. Ele nos ajuda nas primeiras pedaladas... Com sua forte mão nos segura até percebermos que Ele já nos preparou para dominar aquilo que parece grande.
Paz e sucesso!!!
::Juliano Matos
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