“Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança.” (Salmos 131.2b)
“A minha alma é como essa criança”. Que coisa bonita de se dizer sobre a própria alma! Principalmente diante do significado que o salmista dá, diante da imagem que pinta da criança. Sua criança não é aquela que se consome em pirraça, que a seu modo manifesta o que nos adultos chamamos de intransigência. A criança do salmista é criancinha pequena, indefesa, necessitada, dependente. Não há coisas grandes que a impressionem tamanha a simplicidade que a orienta. O ceio materno a satisfaz e a deixa em paz. O braço materno é seu escudo e proteção. A temperatura da mãe e o som de sua voz, quando fala, e de seu coração, quando está em silêncio, é seu verdadeiro lar. É nos braços da mãe que a criança sente-se em casa. É assim que o salmista se declara em relação a Deus.
Como é a nossa relação com Deus? Será que não tem sido adulta demais? Será que não assumimos o protagonismo e pretendemos comandar? Será que não estabelecemos regras relacionais e passamos a acreditar que é por meio delas, do que somos capazes, que entramos e ficamos na presença de Deus? Temo que tudo isso possa ser verdade em nossa vida cristã. E tudo isso nos faz muito religiosos e pouco cristãos. Tudo isso nos faz orgulhosos, presunçosos, juízes uns dos outros. Faz-nos parecidos com o filho mais velho da parábola do pródigo, que se indigna com o amor do pai pelo mais novo. Ele não sabe amar e nem se sente amado (Lc 15.11-32). Faz-nos parecidos com os trabalhadores que reclamam do patrão que decidiu dar o mesmo salário a todos, começando com os que trabalharam menos (Mt 20.1-16). Misericórdia é diferente de justiça. Dependemos da misericórdia, mas somos especialistas em justiça!
O Reino de Deus, que é um Reino de Justiça, manifesta-se pela misericórdia. O Senhor desse Reino é Pai das Misericórdias (2 Co 1.3). Por meio de Sua misericórdia somos feitos justos em Cristo, de modo que a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13). Nesse Reino, todo que foi justificado, ainda continua falho e imperfeito, mas torna-se misericordioso. E por meio da misericórdia, acumula a justiça que o caracteriza como filho de Deus, que é o Pai das Misericórdias. A misericórdia é um fruto que brota na alma de quem escolhe ser criança pequena, dependente da maternidade divina, que se alimenta do amor que recebe de Deus. Que não se deixa possuir pelo que tem, nem orgulhar-se do que pode, pois já entendeu que a vida não é o que fizemos dela, não é nada do que nos parece ser. E por isso já escolheu viver pela fé no Filho de Deus e nele perder a vida para poder ganha-la. O que você tem feito de sua alma? Anseie fazer dela uma criança nos braços do Pai.
ucs