domingo, outubro 09, 2016

Livres como crianças


“Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: ‘Quem é o maior no Reino dos céus?’ Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: ‘Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus.” (Mateus 18.1-4)

O quanto ainda precisamos aprender sobre a vida só aprenderemos se andarmos com Deus. Andando com Deus reinterpretaremos a vida e viveremos cada dia de uma nova forma. De uma forma mais livre, de um jeito que Deus será honrado, para que nosso culto seja nossa vida e não um evento. Às vezes colocamos tantas placas de “proibido” à nossa volta que só nos sentimos realmente com Deus se estamos num lugar que não nos pareça o mundo – o templo! Temos tantos conflitos com a vida que nem nos parece ser possível torna-la um hino. Mas, com todas as lutas e contradições, com todos os perigos e desafios, por causa do Evangelho, creio que a vida pode sim ser um hino. A espiritualidade cristã, ensinada e demonstrada por Jesus, não é asceta. Ela cabe em festas de casamento, na mesa de jantar, nela há confissão e celebração. Nela somos feitos livres o que, normalmente, demoramos para compreender.

Fomos alcançados por Cristo para sermos livres. Paulo, antes acostumado às disciplinas do farisaísmo, aprendeu e ensinou sobre isso: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão.” (Gl 5.1) O contraste entre a criança que devemos ser e o adulto que não devemos ser envolve o aprendizado de sermos livres. Uma liberdade que não se desvirtua em falta de limites e de bom senso. Uma liberdade regida pelo amor a Deus e às pessoas. Por respeito a si mesmo. Como respeitar outros sem respeito próprio? Podemos, por causa do Evangelho, desfrutar a vida e honrar a Deus ao mesmo tempo. O Evangelho não nos faz perfeitos, mas ensina-nos a lidar corretamente com nossa imperfeição e a descobrir o poder da Graça! A tentativa de negar nossas fraquezas é o atestado de que nada sabemos sobre a Graça. Coisas de adultos, de gente que está precisando tornar-se como criança e conhecer a liberdade dos filhos do Reino.

“Quem é o maior no Reino dos céus?” O Reino dos céus não reconhece os maiores, apenas os menores. Não reconhece os que sabem exigir, controlar, mandar e dar ordens. Apenas os servos. Por isso Jesus não encontrou ninguém melhor para colocar no centro, senão uma criança. O Reino dos céus questiona nossas motivações, nossas intenções. Nele, performance não convence. Nele, importa o que fazemos ao próximo muito mais do que o que dizemos sobre Deus. Ele é tão estranho a nós que, nas palavras de Jesus, há quem pense que tem direito ao Reino e que não poderá entrar. E quem se reconheça indigno dele, mas que ouvirá “seja bem-vindo” (Mt 25.31-46). Por isso, tenhamos cuidado. Peçamos a Deus que nos faça ver a verdade que Ele vê em nós. Que nosso coração não se eleve. Que a criança que devemos ser supere o adulto que temos sido, mas que não deveríamos ser, e o Reino dos céus seja nosso lar na terra.

ucs