Ao focalizar a espiritualidade cristã, no Sermão do Monte, Jesus enfatiza a espiritualidade da alma (Mateus 6:1-18) e a espiritualidade no cotidiano (Mateus 6:19-34). Quanto à espiritualidade da alma, Jesus enfatiza a filantropia cristã, a comunhão com Deus e a administração dos exercícios espirituais.
Estamos abordando, desta vez, a necessidade da comunhão com Deus, conforme Mateus 6:5-8. Observamos que a oração é a mais profunda expressão de comunhão com Deus e que, em todos os tempos da história da humanidade e, principalmente da história bíblica, a vida de oração tem sido, é e sempre será o centro motivador de todas as realizações e sucessos espirituais no ser humano. “Muita oração, muito poder de Deus; pouca oração, pouco poder de Deus”.
Moisés, por duas vezes, esteve em comunhão direta com Deus durante quarenta dias, cada vez, tendo resplandecente o seu rosto, ao descer do monte pela última vez (Êxodo 24:18 e 34:28-30). Davi e Daniel eram acostumados a orar a Deus, regularmente, três vezes ao dia (Salmos 55:17 e Daniel 6:10). Sabemos que Jesus Cristo experimentou vida de oração (Lucas 6:12, 22:39 e 40. Aproximadamente cento e vinte, entre apóstolos e discípulos de Jesus, estiveram em oração a Deus, durante dez ininterruptos dias, esperando o Pentecostes (Atos 1:14 e 15, 2:1). Devemos orar “em todo o tempo e sem cessar” (Efésios 6:18 e ITessalonicenses 5:17). São apenas alguns exemplos e citações bíblicas que expressam a necessidade de orarmos incessantemente a Deus.
A carência de oração é a causa de tantos problemas intrincados por que atravessa a humanidade, inclusive a igreja de Jesus Cristo. Por que oramos tão pouco?
Ignorar a oração e não orar é exatamente o mal de muitos seres humanos. Ao usar as expressões: “e quando orardes...” e “e orando”, Jesus admitiu que todo cristão precisa vivenciar normalmente a prática da oração. Ele não admitiu que o cristão ignore a oração, pois é essencial à vida da igreja.
Observemos que o fato de não orar significa que a pessoa está tomando uma atitude avessa à oração, como se dissesse “não preciso orar, pois consigo viver bem, tomar decisões e resolver os problemas da vida, sem a necessidade do que chamam de ‘oração’ ”.
Muitos não oram porque não estão mesmo inseridos no reino de Deus. O sermão do monte é um manual de ética para todos nós, que estamos inseridos no reino de Deus. Se alguém não é convertido a Jesus, não é súdito do reino de Deus e não tem condições de orar, pois a oração só é válida se realizada “em Nome de Jesus” (João 14: 13, 14) e só pode usar esse nome aquele que tem compromisso firmado com Jesus, pela transformação de sua vida. Quase todos os seres humanos gostam de declarar que fazem orações a Deus; mas, biblicamente, só é mesmo válida a oração do cristão comprometido, que tem autoridade para usar o Nome de Jesus. O resto é “blá, blá, blá” que geralmente não passa do teto.
Muitos não oram porque não sabem o que é oração. Pouquíssimas pessoas oram de fato. Oração não é aquele palavreado, mais ou menos decorado ou até mesmo espontâneo, que a pessoa pronuncia entre “Nosso Deus, Nosso Pai” até concluir em “Amém’. Oração é toda uma vida de íntima comunhão com Deus, e não um amontoado de palavras. Por exemplo, a expressão de verdadeiro amor de um casal não se limita a algumas poucas declarações de amor com frases bem formuladas ou presentes ao cônjuge, e sim, uma vida de inteira dedicação à pessoa amada. Dá para perceber que as pessoas não sabem o que realmente significa oração e o que se expressam ao orarem, não é exatamente oração, em seu sentido mais profundo e verdadeiro. Tantos que se levantam nas igrejas e oram de modo eloqüente realmente não oram.
Muitos não oram porque já praticam filantropia. Acham eles que, pelo fato de realizarem filantropia às pessoas carentes e desenvolverem ativismo social, até mesmo em nome de Jesus, isso já substitui a oração. Esquecem-se de que “o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade (oração) para tudo é proveitosa” (I Timóteo 4:8).
Muitos também não oram porque acham que já fazem muitos trabalhos na igreja e até mesmo evangelizam e pregam muito. Com tanto ativismo eclesiástico, acabam ignorando a intimidade da oração a Deus e, assim sendo, todo ativismo desses cristãos acaba sendo um fracasso. Também esses deveriam lembrar-se de I Timóteo 4:8.
As preocupações com a vida cotidiana, conforme abordadas por Jesus em (Mateus 6:19-34), impedem as pessoas de orarem. São tantos afazeres, ativados pelo corre-corre da vida, que as pessoas não têm tempo de orar.
Muitos não oram porque a oração exige disciplina. São disciplinados, no sentido de dedicarem tempo, eficiência e perseverança, quando tratam de trabalho, estudo, negócios, etc... Mas, quando verificam que a oração também exige tempo, dedicação e perseverança, preferem não orar.
Muitos não oram porque se atropelam em empecilhos à oração e não se esforçam para desobstruírem seu caminho a Deus. Isaías 1:15, 59:1 e 2 nos informam que Deus rejeita as orações dos que se comprometem com vida de pecados. Tiago 4:1-4 vai mais além e nos informa que muitos oram e esperam a resposta de suas orações para facilitar deleites egoístas, o que tem a ver com prazeres e práticas pecaminosas, o que Deus não aceita. II Crônicas 7:13 e 14 nos informam que Deus está pronto a ouvir as orações, mas só se as pessoas decidirem transformar suas vidas. Como as pessoas não estão interessadas em abandonar suas práticas pecaminosas, elas preferem não orar.
Orar com os olhos nos outros é um erro crasso que acaba anulando a oração. É como se não orasse, pois Deus não aceita esse modo de orar.
Os fariseus, no tempo de Jesus, copiaram a prática de oração de Salmos 55:17 e Daniel 6:10, aplicando o método de maneira errada. Três vezes ao dia, onde estivesse o fariseu (na sinagoga, na esquina, na praça ou noutro qualquer lugar), ele levantava as mãos ao céu e orava em voz alta. O que Jesus criticou não era o fato de orar em público, e sim o desvio de propósito da oração, com a preocupação de estarem sendo observados e elogiados pelos outros. Eles realmente não gostavam da oração e também não gostavam do Deus da oração; os fariseus gostavam de aparecer diante dos outros; eles gostavam de si mesmos (Lucas 18:10-12).
Nas igrejas evangélicas, geralmente nos levantamos em orações com frases bem formuladas, numa linguagem bonita, fluente e escorreita. Isso é normal. Será que oramos em nossa vida particular, lá no interior do quarto, com tanta fluência como oramos em público? E quando as pessoas dão broncas, colocam carapuças nos outros e mandam recados, usando suas orações públicas? Não é verdade que há aqueles que pregam sermões nas orações, citando a Bíblia a seu bel-prazer? São muitas orações manipuladas em público, que nada tem a ver com o verdadeiro sentido da oração que é comunhão com Deus. E é exatamente isso que Jesus criticou, a saber, o desvio de propósito da oração em público e não propriamente o fato de orarmos em público. Certamente que podemos orar em público, desde que o propósito seja a comunhão com Deus, o que geralmente é bem difícil, exatamente por estarmos em um ambiente público.
Muitos anulam suas orações porque oram somente com os lábios. A tradução correta da língua grega para “vãs repetições” é como se fosse um “blá, blá, blá”. São palavras desconexas e sem nenhum sentido profundo. Aquele que ora não sabe realmente o que está pronunciando, porque aquele amontoado de palavras ou frases não expressam profundo significado de comunhão com Deus. A oração é realizada da boca para fora, sem que expresse o verdadeiro coração em comunhão com Deus. É oração sem entendimento. Observemos em Romanos 12:1 a expressão: “culto racional”. Observemos em I Coríntios 14:15: “orar com o espírito e com entendimento”.
Em Mateus 12:34 Jesus declarou: “do que está cheio o coração fala a boca”. O que é que realmente está no coração de alguém que usa um “blá, blá, blá”, sem sentido, em suas orações?
Já observamos que alguém não convertido a Jesus não tem condições de orar “em Nome de Jesus” e só pronuncia “blá, blá, blá” na oração. Isso acontece exatamente porque o coração do incrédulo não está habitado pelo Espírito de Deus e, estando vazio de Deus, as supostas orações são também vazias de Deus.
A expressão de Jesus: “pensam que por muito falarem serão ouvidos” significa que aqueles que estão vazios de Deus se valem desse repetido e longo “blá, blá, blá”, na esperança de que algumas de suas palavras, entre tantas que pronunciam, alcancem a divindade. Isso é uma fantasia que as pessoas aninham e nada tem a ver com a realidade.
Cuidemo-nos também para que as línguas estranhas sejam praticadas como um dom do Espírito de Deus, com muito zelo e discernimento, evitando línguas espúrias e fogo estranho, com apenas “blá, blá, blá” de adoradores que não se preocupam em relacionar o Espírito de Deus com o seu entendimento. Essa meninice espiritual é perigosa e pode até ser usada como línguas diabólicas, o que infelizmente pode acontecer (II Coríntios 11:14).
Bem nos advertiu Jesus em Marcos 7:06: “...este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. Orar só com os lábios é como não orar.
Vivemos em carência de oração e, quando oramos, muitas vezes não chegamos a resultados positivos e podemos até acarretar mais dificuldades e problemas. São três os perigos da oração, abordados por Jesus em Mateus 6 : 5 – 8: não orar, orar com os olhos nos outros e orar só com os lábios.
Esses três perigos podem nos conduzir a não termos adequadas respostas para as orações que supostamente fazemos e, desse modo, estarmos frustrados na prática da oração, o que pode nos conduzir a uma posição negativada e subtrair de nós o desejo de orar.
Que o Espírito de Deus cuide das igrejas de Jesus Cristo e nos estimule à verdadeira oração, para que não soframos desse tipo de carência espiritual!
Pastor Abner Ferreira - Ministério de Madureira