segunda-feira, março 17, 2014

Qual o foco de suas práticas religiosas?

Para refletirmos sobre o foco das práticas religiosas, necessário se faz definir e conceituar a hipocrisia, inclusive dentro dessas práticas religiosas.
“A hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não possui. A palavra deriva do latim hypocrisis e do grego hupokrisis, ambos significando a representação de um ator, atuação, fingimento (no sentido artístico). Essa palavra passou, mais tarde, a designar moralmente pessoas que representam e que fingem comportamentos.” Assim definem os dicionários da Língua Portuguesa.
Mas fora dos dicionários, há uma semântica muito mais ampla. A hipocrisia traz um falso viver que domina a alma de quem a vive. É possível ver um mundo completamente diverso deste lado da extensão da forma de viver. O ser hipócrita vê seus interesses se baseando em crenças que mantêm um padrão de moralidade mais alto que aquele que ele pensa poder encontrar.

Aqueles que nunca tentam viver segundo os princípios da moralidade e da virtude são chamados de hipócritas, mas é possível que dentro dessa nobreza de sinceridade, a eles não coubesse tal alcunha, considerando-se que o costume da hipocrisia “homenageia” a virtude.
Ainda há que se considerar o estímulo frequente da hipocrisia no modo de equilibrar um perfil de verdade própria, o que a torna uma virtude dentro de um sistema endógeno. Um exemplo disso são as leis que se formulam à parte de certames que um grupo convencionou.

O povo de cultura diferenciada entre grupos que o compõe enforca a verdade com compromissos de deveres a serem cumpridos, e, de tanto usá-la para outros em detrimento de si, acaba por acreditar que este comportamento é correto. Os antepassados acreditavam que ensinar os filhos fundamentando-se naquilo em que eles não mais criam, mas que pensavam ser ideal para os pequeninos, era correto, no entanto, também era uma forma de hipocrisia.
Não é sem frequência que o hipócrita, que busca, por trás de verdades próprias, o prazer, transforma-se em hedonista, pois o hedonismo é uma incessante busca por sensação ou emoção agradável, ligada à satisfação de uma vontade, no entanto, não importando as ramificações dos fundamentos hedonistas, o ser humano deve sempre buscar em Deus o prazer nas inúmeras linhas de demarcação da forma de viver, mas, considerando-se que com essa adjetivação para a emoção, o prazer seria regido pela razão e não causaria sofrimento. O hipócrita considera-se com o domínio sobre si mesmo e supremo em governar suas determinações.

O hipócrita se emula dentro de uma verdade que ele sabe não ser autêntica. Vive uma ilusão e não nela, é como se subisse em algo falso, como se, numa acrobacia, tentasse se equilibrar. Isso causa vertigem, e visualizar uma base que não está lá é tão falso quanto viver na hipocrisia. Como fica longe o mundo visto pelo ângulo “akron”, o mundo, lá embaixo, tem cores daltônicas. E por não conseguir aceitar sua vivência, o hipócrita acusa aqueles que vivenciam a mesma fé, a mesma crença, a mesma segurança fundada em pressentimentos tais quais os dele; denuncia-os como pecadores, enquanto, no alarde ao alheio, esconde-se.

Sem jamais voltar-se para dentro de si, o hipócrita vive um mundo de equilibrista que se apoia numa fina corda e se determina dentro de parâmetros que acredita serem largos. No entanto, tais parâmetros são estreitos e perigosos, os quais trazem a impressão de nobreza. Só que, esse falso equilíbrio pode tornar-se uma atração fantasiosa, pois a corda pode arrebentar-se e seus pés não se sustentam no falso equilíbrio. E o hipócrita é desmascarado pela falsidade de sua própria hipocrisia.

A prática da religião somente se dá dentro do contexto humano, vislumbrando, assim, condutas de hipocrisia. Um hipócrita religioso é uma pessoa que finge e exibe uma religião, mas sem servir a Deus de coração, não se podendo dizer que alguma religião esteja isenta dela.

A essa altura, tendo já entendido a definição e o conceito de hipocrisia, verifiquemos a mudança de foco das práticas religiosas humanas, que deixam de lado o propósito de glorificar exclusivamente a Deus e realizar Sua vontade, mudando esse foco para o egocentrismo e o egoísmo.

Você já imaginou quantas religiões há em toda a Terra? Você já imaginou também o quanto a humanidade está confusa com essas tantas religiões ? Você já imaginou igualmente o quanto essas religiões têm se digladiado entre si e criado dificuldades para a humanidade? Na verdade, não é surpresa para ninguém que esse clima de tantas religiões contrárias e contraditórias em vez de ajudar a humanidade ir a Deus, têm atrapalhado a comunhão entre o homem e Deus e dificultado grandemente o avanço do reino de Deus na Terra.

A religião é caracteristicamente espiritual, comunhão direta com Deus. Religiões são as várias interpretações dadas à religião. Encontrando-se pessoas que concordam com as mesmas interpretações dos itens da religião, estas pessoas se agrupam e formam uma religião organizada. Desse modo, com mais ou menos adeptos, estabelecem-se as religiões organizadas, elaborando estatutos e regimentos, constituindo-se as estruturas doutrinárias e preceitos práticos para os seus fiéis.

Há de se estabelecer a diferença entre religiosidade e espiritualidade. Há muitos religiosos que, a todo custo e categoricamente defendem suas religiões, até mesmo com interpretações anti-bíblicas, preceitos que esses próprios religiosos não cumprem e uma liturgia que escraviza mais do que liberta. A religiosidade mata. Diferentemente da religiosidade é a espiritualidade, que é a verdadeira religião de comunhão com Deus, dá vida e liberta. Muitos religiosos não são espirituais e até há os espirituais que são pouco religiosos. Verdade é que, no Céu haverá muitas surpresas, pois muitos reconhecidamente religiosos lá não entrarão e muitos outros, que não são categorizados como “religiosos”, buscam sinceramente fazer a vontade de Deus e povoarão o Céu.
Agora reflita seriamente: você se conhece muito bem ? Você conhece mesmo a religião que você pratica ? Toda religião tem um foco, um propósito, uma finalidade, um ponto ideal que o religioso espera alcançar com suas práticas religiosas. Qual é mesmo o foco e o propósito de suas práticas religiosas?

Nossas práticas religiosas devem ser focadas tão somente em Deus. Leia cuidadosamente Mateus 26.39; João 5.30; Atos 9.6; Romanos 12.1; 1 Coríntios 10.31; Gálatas 2.20; Efésios 1.4-6; Colossenses 3.23. Observemos que o foco da espiritualidade e da religião há de ser sempre glorificar exclusiva e unicamente a Deus, dispondo-se a realizar tão somente sua vontade.

Infelizmente, por causa do pecado, que é contrário a vontade de Deus (Isaías 59.1 e 2 e Tiago 4.4), os seres humanos não estão dispostos a praticarem a vontade de Deus. E, consequentemente, mudam o foco de sua religiosidade, criando religiões humanizadas, socializadas, com ênfase econômico-financeira, religiões egocêntricas e egoístas. Por isso mesmo, o foco de muitas religiões pós-modernas é antropocêntrico, focalizando basicamente o homem e deixando de lado a vontade de Deus. Essas religiões egocêntricas e humanas fazem muito mais mal do que bem, atrapalham mais do que ajudam a humanidade.

Observemos atentamente o que disse Jesus em João 5.41 – 44: “Eu não recebo glória dos homens, mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis. Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros e não buscando a honra que vem só de Deus? ”

Em Amós 4.4 e 5, verificamos amplamente a hipocrisia nas práticas religiosas. Nos tempos de Amós, tanto a vida social quanto a vida religiosa eram governadas pelo mesmo princípio: o hedonismo. Eles faziam tudo não para agradar a Deus, mas para agradar a si mesmos. A religião deles perdeu seu propósito de glorificar a Deus e passou a ser mais um instrumento para satisfazer seus próprios caprichos.

Jeroboão I construiu novos santuários em Betel e Dã, introduzindo naqueles santuários um bezerro de ouro para o povo adorar. O culto foi paganizado, a idolatria foi assimilada no culto, o povo queria chegar a Deus por meio de um ídolo. Não é verdade, que hoje é bem assim, com várias religiões e cultos pós-modernos, como uma verdadeira colcha de retalhos e a gosto de cada cliente ?! Até quando essa hipocrisia sincrética continuará?

A nação israelita praticava uma religião fortemente ritualista, nos tempos do profeta Amós. A expressão externa do culto era meticulosamente observada. Eles faziam seus sacrifícios, traziam suas ofertas, entregavam o dízimo, celebravam suas festas, mas tinham perdido o foco. Pensavam que Deus se agradava de seus ritos e, ao mesmo tempo andavam em escandalosas práticas de pecados. Lembremos o que declarou Jesus, sobre os religiosos do seu tempo, em Mateus 6.1 – 5. Será que esse ritualismo religioso, externo, ainda está acontecendo hoje?

Nos tempos do profeta Amós, a nação israelita praticava uma religião eminentemente humanista. É admirável que indivíduos tão maus, não só observassem as exterioridades da religião, mas o fizessem com prazer. A motivação do culto em Betel e Gilgal não era glorificar a Deus, mas agradar a si mesmos. A religião não era uma expressão de adoração, mas de autogratificação. Lembremos novamente o que disse Jesus em João 5.41 – 44, sobre os religiosos do seu tempo. Seria diferente nos dias atuais?!

Nos tempos do profeta Amós, a nação israelita praticava uma religião debaixo do desgosto e reprovação de Deus. O profeta Amós se dirige aos peregrinos de forma irônica: “Vinde a Betel e transgredi, vinde a Gilgal e multiplicai as transgressões”. O tom de Amós é de zombaria e ironia, sem dó. Amós zombava do hino que os peregrinos cantavam enquanto regressavam de suas práticas religiosas, para suas casas. O profeta zombava dos seus propósitos, dizendo-lhes que o resultado de suas práticas religiosas era apenas a transgressão multiplicada por mais transgressões. Ele zombava da meticulosidade ritualista deles, nos sacrifícios e dízimos. Quanto mais religiosos eles se tornavam mais longe de Deus andavam. Quanto mais egocêntricos, mais afastados da graça divina. Quanto mais zelosos em seus ritos, mais prisioneiros dos seus pecados. Lembremo-nos do que diz Deus em Isaías 1.11 – 18 e Mateus 7.21 – 23.

Toda essa hipocrisia nas práticas religiosas se manifesta entre os falsos cristãos e os falsos cultos e, até mesmo, entre os verdadeiros cristãos e as verdadeiras igrejas que, desavisados ou negligentes, cometem erros doutrinários crassos, liturgias exageradas, descaradas heresias, frustrando e empurrando nossos contemporâneos para o desequilíbrio espiritual e moral, para degenerescência eclesiástica e para o caos... Até quando sofreremos esses males?!

Que o Espírito do Senhor nos socorra, dentro de tanta hipocrisia religiosa dos tempos atuais.

Bispo Manoel Ferreira