quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Antropocentrismo religioso - Bispo Manoel Ferreira


No estudo do ser humano, numa forma de pensamentos e crenças religiosas, o Homem naturalmente se volta para si. Torna-se o alvo da religião, como se a religião fosse reverter uma ideologia para cada Homem.
O antropocentrismo, surgido desde a época do Renascimento quer dizer anthropos, “humano”; e kentron, “centro” – conjectura que o Homem deve permanecer como centro das atenções e dos entendimentos humanos.
Considerando-se como o único ser pensante criado por Deus, e que faz parte de um grupo de entidades concretas do universo, o Homem segue em frente repetindo que é o centro das atenções.
Provavelmente por considerar o ponto de vista pelo qual ele vê o mundo e imagina o universo, ele se considera no centro.
Há considerações feitas também pela humanidade de que o antropocentrismo se contrapõe ao teocentrismo, a primeira centrada no Homem e a segunda tendo Deus como o ponto central.
Num contexto mais atualizado, o antropocentrismo está muito ligado ao intelectualismo que vislumbra peculiaridades de que pode o homem se servir para garantir-lhe que até o que vem de Deus é para si em particular. Ainda por essa vertente de pensamento, pode-se considerar que todas as outras espécies, toda a natureza e todo o universo estão subordinados ao Homem.
Doutrinas paradgmais são envolvidas em religiões como forma de camuflar a verdade de Jesus, assim o homem é atraído pela religião pensando em agradar a si próprio.
O Homem procura nessa visão egocêntrica agradar a si mesmo e não a Deus, mesmo dentro das religiões o homem concentra para si os esforços de que se serve.
Na dualidade entre o antropocentrismo e o teocentrismo, que se contrapõem diretamente e, que por isso, mantêm-se na mesma linha de orientação e que também por isso, anulam-se os efeitos contrários, tende ainda a colocar o homem no centro, e nele fechado, e nele preso, e nele sem saída, e que ainda que nele se acoplassem asas de anjos de Deus que o permitissem se espiritualizar, preso estaria ainda, por não enxergar dali a saída.
O Homem é atraído por sistema de doutrinas, de crenças e de práticas de rituais convencionados por uma organização social, na qual se determina o que é verdadeiramente divino e tudo o que pode abranger a “divindade”. Ele pode ocupar a vida inteira, sem pensar na busca do que valerá a pena e considerará, sem abaixar a cabeça, por pertencer a uma determinada doutrina ou religião de que se possa valer e embasar suas verdades. Esse se humano não estará percebendo que está sendo atingido como alvo, e sendo atraído para a clausura daquilo em que deverá acreditar. E dirá num torpe e vão pensamento sem propriedade: “É disso de que preciso em minha vida.”
Fazer da religião a centralidade em relação a todo o universo é, antes de tudo, descuidadoso, principalmente quando se tenha trocado seu voto por míseras moedas.
Em diferentes épocas, surgiram doutrinas éticas, como respostas às dificuldades que desafiaram a capacidade de o ser humano solucionar problemas na intenção de dar rumo a um comportamento moral e ético. Daí as mudanças historicamente catalogadas.  O Homem gasta muito do seu tempo esperando por aquela segunda chance, uma mudança que resolvesse tudo, por uma perfeita libertação, por soluções que circulem nas veias, sem ao menos pensarem no próprio Deus que a tudo provê.
Líderes de igrejas e grupos religiosos de um modo geral, não buscam a Deus, pensando no que Ele gostaria de se servir do Homem para levar sua Palavra. Religiosos e membros das igrejas não procuram Deus para ouvir-lhe a Palavra, mas para pedir benefícios para si, tais como: enriquecimentos, curas, favorecimentos, e outros privilégios materiais desse tipo, com base na Palavra.
E os menos seguidores de uma religião, e até ainda os que não se devotam aos céus, gritam tão-somente na hora em que precisam: “Meus Deus me ajude!” A frase já se tornou lugar comum sendo considerada um conglomerado verbal e nem mais uma interjeição apelativa a Deus.
Desde Platão e Aristóteles, o ser humano se sente atraído pela sabedoria, e buscava daí, à luz de sofismas, o saber a respeito do mundo, sem perceber que ele estava se tornando o alvo de uma idolatria.
O Homem que busca valorizar seu ego não percebe que há abutres o seguindo, que há tremores lhe rachando o solo por onde pisou, e, não buscando Deus como alvo de glorificação, inventa o que lhe falta dentro de si mesmo.
Precisando ser arrancados das ruínas e dos devaneios silenciosos, o Homem busca pelo conforto espiritual, procurando, em detrimento do bem maior que Jesus nos ensinou, que é “amar a Deus e ao seu próximo”, por realizações maiores.
Buscar não se conflitar, e adorar a Deus como seu único salvador é uma tarefa difícil, mas que deve, enfim, fazer parte do labor diuturnamente, evitando, assim ser alvo de flechas venenosas que envenenam a alma, bem como não se manter nas condições de alcançar a paz eterna.
Nos tempos do profeta Amós, o povo de Israel vivia crenças religiosas que atribui ao ser humano uma posição de centralidade em relação a todo o universo, isto é, uma religião antropocêntrica. Pessoas de moral e índoles imperfeitas praticavam esse tipo de religião com satisfação, e o que levava a nação ao culto em Betel e Gilgal não era o de louvar a Deus, porém agraciar o coração no exercício do egocentrismo. A religiosidade naquela época servia para gratificar a si, sem saber que praticavam o “gloria victis”. Não se humilhavam na presença do Todo-poderoso, e ainda se exaltavam diante do espelhado de si.
Os contemporâneos de Amós afligiam os pobres e embriagavam-se de vinho, e isso era prazeroso. Gostavam do templo para serem vistos e admirados, pouco para buscar ao Senhor. Tudo faziam a si em detrimento da vontade de Deus, pois tudo o que compunham e todos os sacrifícios estavam voltados à glorificação própria e egocêntrica. Por isso não havia, nas obras religiosas, nem nos rituais, qualquer tipo de remissão pela “oferta pelo pecado” e pouco se valiam das prescrições de Deus codificadas em Êxodo 29.36; Levítico 5.6 e 6.26; II Crônicas 29.23 e 24.
A autos satisfação e o egoísmo prenunciam a morte do arrependimento. E a ausência do arrependimento prenuncia a morte da verdadeira religião, conforme as exortações de Deus em Mateus 3.2 e 4.17; Marcos1.15; Atos 2.38 e 3.19. Eles queriam uma religião que agradasse a si mesmos, enquanto o Senhor queria uma religião que trouxesse o seu povo de volta para Si – II Crônicas 7.13 e 14; Isaías 1.16 – 20; Jeremias 4.14, 21; 8.4 – 9; 13.27; 31.22. Certo é que Deus deseja um povo exclusivamente seu, liberto das amarras e corrupções deste mundo e dedicado tão somente ao Senhor – Tito 2.11 - 14.
As práticas religiosas não levavam o povo de Israel a cuidar dos pobres e dos desvalidos nos tempos do profeta Amós, Tiago 1.27. Ao contrário, os hábitos religiosos favoreciam ao enfraquecimento ou mesmo a perda de valores morais, pois, em vez de buscar a Deus, a nação israelita, ao voltarem de suas práticas religiosas, vinha afastada de Deus e idolatrando, no sentido amplo da palavra o egoísmo e o individualismo, porque adoração não passava de um ritual vazio - Isaías 1.11 a 17.
Hoje vemos muitas mega-igrejas, em suntuosas catedrais e com poderes midiáticos, no entanto sem que seus responsáveis atentem para as grandes desigualdades sociais, a ausência de sensibilidade pelo sofrimento alheio, a exclusão social, a hipocrisia religiosa e a ânsia por vultosos lucros e ainda assim se dizem exercerem grandes reavivamentos. Pode ser que esse reavivamento aconteça, porém, se a prioridade do convertido não for a de seguir a Cristo, mudando assim seu comportamento, o reavivamento não se tornou realidade – IICoríntios 5.17.
A história da filosofia, que tem delineado o rumo da história da humanidade, tem desenvolvido uma supervalorização humana. As descobertas e especializações científicas, que têm desenvolvido uma tecnologia capaz de satisfazer as superficiais carências humanas, prometem o endeusamento do homem, como um “semideus do futuro”. O que se prevê é que, nos próximos séculos e milênios, o ser humano cada vez mais se estabilize no Universo, preenchendo, desse modo, todas as suas frustrações e necessidades, na esperança de melhorar a qualidade de vida. Isso posto, o ser humano do futuro negará mais e mais o Deus da Bíblia, suas operações, maravilhas, milagres, transformações e dons espirituais. Todos os pilares, nos quais se firmam as doutrinas bíblicas, tendem a ser cada vez mais solapados e desmoronados pela supervalorização do homem. Para que Deus?! Para quê, religião?! Estas e outras questões se tornarão prioritárias e o homem imagina alcançar a vanguarda e o domínio das práticas espirituais e religiosas. Aonde chegaremos? Aonde chegaremos nessa complexidade do endeusamento humano?!... Em tempos remotos da história humana, a igreja era frontalmente perseguida e os mais fiéis eram cruelmente executados e mortos, através de múltiplas maneiras. Nos tempos pós-modernos, a guerra contra a igreja é ideológica e isso é procedente de Satanás, com o fim de anular a Deus e conduzir a humanidade à perdição eterna...
O antropocentrismo religioso traz como consequências a auto gratificação, a vaidade carnal e o viver de aparências religiosas. Tudo isso endeusa o homem e neutraliza o Deus da Bíblia, desenvolvendo uma síndrome de complexidade religiosa e espiritual, a tal ponto que as Igrejas de Jesus Cristo vão, cada vez mais, perdendo seu conceito, autoridade e resultados. Fica dificílimo acentuar a espiritualidade e a importância da piedade cristã; como cria sérios problemas para o povo, em geral, diferenciar as igrejas verdadeiras e espirituais das igrejas falsas e antropocêntricas. A impressão que se dá é que o antropocentrismo religioso vai tornando as práticas religiosas cada vez mais carnais e exteriores, sem satisfazer a espiritualidade íntima do ser humano. Tudo isso acaba significando a negação do que é essencial, permanente e eterno.
A ênfase demasiada nas emoções tem desenvolvido o prazer, como método natural para se estabelecer a possível igreja verdadeira. O povo, em geral, pode escolher as igrejas e os estilos de cultos, como os clientes escolhem os supermercados, as escolas, e tudo o mais, dentro da ampla opção que a indústria e o comércio oferecem. Métodos competitivos até extravagantes e táticas para envolver os clientes, inclusive com a ampla atuação da tecnologia e da mídia, cada vez mais envolvem a população em geral. Ao que se nos parece, assim estão as religiões e as igrejas. Tudo isso mais atrapalha do que ajuda, estabelecendo como critério de igreja verdadeira o prazer e os resultados superficiais que a religião oferece.
A igreja verdadeira tem como pilares e parâmetros os ensinamentos bíblicos, numa exteriorização do que significa a vontade de Deus para o homem, independentemente de o ser humano gostar ou não. Falar na realidade do pecado e da perdição eterna não dá para o homem pós-moderno engolir. A verdade atual gira em torno das emoções humanas, e não na vontade de Deus. Isaías 55. 7-9 precisa ser observado.
Nesses termos, precisamos rever nossas liturgias de culto, nossa homilética e nossos avivamentos espirituais. O que esperamos do povo: emoções ou fé verdadeira?
O verdadeiro arrependimento interior é bem mais do que antropocentrismo religioso baseado nas emoções e prazeres egoístas. O arrependimento garante mudança de vida. E esse é o escopo da igreja verdadeira – Lucas 19. 6 e 8; Atos 3.19. O arrependimento verdadeiro garante frutos espirituais positivos e boas obras do cristão – João 15.4 e Efésios 2.10.
Guardemo-nos do antropocentrismo religioso e elevemos, cada vez mais, a igreja verdadeira, que tem a mensagem transformadora do homem pós-moderno.
GPS Gospel