Setecentas e trinta e sete palavras valem mais que uma imagem
Entenda como na simplicidade da fé, consiste a verdadeira felicidade, e que ao contrário do que o mundo prega, o consumismo exagerado leva a caminhos de endividamento e não de alegria
Enquanto esperava o meu voo para Brasília, reparei num avião pintado com a propaganda de uma fábrica de chocolate. Esse é um tipo de publicidade totalmente novo para mim, algo bem estranho, mas o fato é que chama bastante a atenção. Não sei você, mas eu gosto mais de chocolate do que de voar.
Está no Congresso Nacional, desde 2001, um projeto de lei que proíbe a propaganda infantil (divulgação de propagandas feitas com apresentadores infantis ou desenhos que possam atrair a atenção dos pequenos). Segundo um grande instituto de pesquisa, crianças de até onze anos assistem em média cinco horas de televisão por dia e esses anúncios se concentram no horário dos programas infantis.
Lembro de um comercial em que uma esponja de aço cantava e dançava e de uma mãe me contando que seu filho vivia pedindo que comprasse para ele uma esponja igual.
Especialistas afirmam que as crianças não distinguem os comerciais dos programas infantis, não estão preparadas para lidar com o apelo das propagandas e têm um entendimento muito literal, crendo em tudo o que é dito. Entre os efeitos nocivos, apontam a obesidade, a erotização e o materialismo.
Uma pesquisa divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz mostra que os adolescentes também são vítimas da publicidade. Quando expostos às propagandas, consomem mais bebidas alcoólicas, ou seja, há uma indução ao consumo. A questão é séria, pois o consumo de álcool pode ser a porta de entrada para outras drogas. Essas propagandas violam regras de autorregulamentação que proíbem a utilização de ideias ou imagens que sugiram que o consumo de álcool seja sinal de maturidade ou contribua para o sucesso profissional, social ou sexual. Crianças e adolescentes são vítimas das propagandas, mas será que os adultos estão imunes?
Não menos estranho que a propaganda da fábrica de chocolate foi receber uma vez, dentro de um avião, um catálogo de compras da companhia aérea com os mais variados produtos. Nele podia se ler: “Leve este catálogo para casa, ele é seu”! Quanta gentileza!
Essa situação me fez lembrar uma história bastante curiosa que é contada em “O Seu Dinheiro”, de Howard Dayton, um dos melhores livros sobre finanças que já li.
“Uma companhia americana abriu uma fábrica nova na América Central porque a mão de obra era barata e abundante. O início da fábrica correu com tranquilidade até os trabalhadores receberem seus primeiros pagamentos. No dia seguinte, nenhum dos habitantes do vilarejo compareceu ao trabalho. A gerência esperou um, dois, três dias. Nenhum deles ainda voltara ao trabalho. O gerente foi procurar o chefe da vila para conversar a respeito do problema. ‘Por que deveríamos continuar a trabalhar?’, perguntou o chefe em resposta ao questionamento do gerente. ‘Estamos satisfeitos. Já ganhamos todo o dinheiro de que precisamos para viver’. A fábrica ficou inativa durante dois meses até que alguém teve a ideia brilhante de enviar catálogos para a compra via postal a cada morador da vila. A leitura dos catálogos criou desejos novos nos moradores do vilarejo. Logo retornaram ao trabalho e não houve problema de falta de empregado desde então”.
A publicidade divulga as qualidades e vantagens de um produto, mas só será totalmente eficaz se tiver certo grau de influência sobre as pessoas. As coisas proporcionam um prazer passageiro e nem sempre são práticas e necessárias como querem que você acredite. O principal objetivo da propaganda é “criar” desejos, pois, visa manter e aumentar as vendas.
“O inferno e o abismo nunca se fartam, e os olhos do homem nunca se satisfazem”. (Pv 27.20.) Sofremos um verdadeiro bombardeio diário de estímulos ao consumo. É praticamente impossível não sermos “fisgados” por tantas ofertas que nos invadem todos os dias. Se a propaganda é “a alma do negócio”, cuide bem da sua para não perdê-la, pois, “que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma”? (Marcos 8.36.)
Veja as publicidades de uma forma mais crítica, não se deixe iludir. Ao ver uma propaganda, lembre-se de que você não está comprando “felicidade”, mas apenas uma goma de mascar, um chinelo ou uma tampa de vaso sanitário. Antes de comprar um bem ou contratar um serviço, avalie a sua real utilidade e pense na beleza das paisagens e das pessoas apenas como embalagens bonitas, pois o que importa mesmo é o que está dentro delas.
Obrigado Jesus!
Um forte abraço e que o Senhor te abençoe!
:: Por Pr. Célio Fernando
Fonte: Jornal Atos Hoje.